Tu vens a mim? (Mt 3,13-17)
Nas margens
do Jordão, a fila dos pecadores se aproxima de João Batista, disposta a
mergulhar nas águas. Esse banho ritual tem um belo significado: precisamos
reconhecer nosso pecado e deixar-nos lavar, por dentro e por fora, como
preparação para o Reino que vem na pessoa do Messias.
Para a
surpresa do Batizador, entre os pecadores surge o Cordeiro sem mancha,
exatamente aquele que lava os pecados do mundo. Daí a pergunta de João,
surpreso e desconcertado: - “Tu vens a mim?” Ou seja, tu és a última pessoa que
deveria estar nesta fila. Não tens nada que purificar...
- “Tu vens a
mim?” Na mesma pergunta do profeta, uma reação de espanto e o inevitável
movimento de recusa. João ainda não percebeu que a “vinda” do Messias não tem
limites. O Messias esperado veio a nós disposto a tudo: já se encarnou,
revestiu-se de nosso corpo mortal, deixou-se gestar por uma mulher e, agora,
vem aos pecadores como se fosse um deles...
Eis o
comentário de Hébert Roux: “Mateus é o único dos evangelistas a relatar esta
conversa entre Jesus e João. Com isto, ele entende completar e deixar claro
aquilo que o relato da Natividade já deixava entrever: o Cristo, nascido da
Virgem Maria, saído da posteridade de Abraão, vem identificar-se à humanidade
maldita, em cujo seio ele aparece como um simples homem, e da qual ele partilha
totalmente o destino”.
Grande
decepção! Israel esperava por um Messias glorioso, um general vencedor, e eis
que surge, da Galileia dos gentios, um aprendiz de carpinteiro que se mistura à
baixa ralé dos pecadores miseráveis...
“Por seu
batismo – adianta-se Hébert Roux -, Jesus indica de que maneira ele vem cumprir
toda a justiça: sofrendo ele mesmo, o justo Juiz, a condenação e a morte do
homem pecador ao qual ele se identifica. Com isso, enfim, Jesus quer mostrar
que o “verdadeiro arrependimento” não é, não pode ser, uma ação do homem
natural. Ele assume esse arrependimento que o homem não é capaz de conhecer sem
morrer.”
Arrependimento
e morte – um par inseparável. Como posso arrepender-me sem morrer para mim
mesmo? Busco o perdão do pecado e não abro mão das situações em que ele
acontece? Pretendo a salvação e continuo vivo nas mesmas cobiças? Espero pelo
novo Adão e permaneço abraçado ao velho Adão?
Batizar-se é
morrer afogado. Morro nas águas batismais para não morrer nas águas do Dilúvio.
E quando voltar à tona, eu verei que fui erguido pelo mesmo Cristo, que
mergulhou antes de mim nas mesmas águas de salvação.
Orai sem cessar: “Salva-me, ó Deus, pois a água sobe até o meu pescoço!” (Sl
69[68],2)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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