Não vim
abolir, mas cumprir... (Mt 5,17-37)
Para o fiel judeu, a Lei era algo
sagrado, manifestação do próprio Senhor. Quando Jesus anuncia os preceitos
éticos de sua Boa Nova, poderia parecer que ele ferisse o edifício sagrado da
Torah; no entanto, o Mestre apenas reorientava os olhos e os corações para as
intenções originais do Deus que falou no Sinai.
Hans Urs von Balthasar comenta a
passagem:
“No início do Evangelho, Jesus
sublinha que ele não veio abolir a Lei dada por Deus na Antiga Aliança, mas
cumpri-la em seu sentido primitivo, pensado por Deus. E isto até seus mínimos
traços, isto é, até o sentido mais íntimo que Deus lhe dera. Este sentido foi
indicado no Sinai: ‘Sede santos porque eu sou santo’. (Lv 11,44) Jesus o
repetirá no Sermão da Montanha: ‘Vós sereis perfeitos como vosso Pai celeste é
perfeito’. (Mt 5,48)
Este é o sentido dos mandamentos:
aquele que quer permanecer na Aliança com Deus deve corresponder à sua atitude
e seu pensamento; tal é o objetivo dos dez mandamentos. E Jesus nos mostrará
que este cumprimento da Lei é possível; assim ele viverá seu sentido último
diante de nós, ao longo de toda a sua existência, até que se realize tudo o que
foi profetizado: até a cruz e ressurreição.
Jesus não nos pede nada de
impossível. A primeira Leitura (de hoje) diz literalmente: ‘Se o quiseres,
guardarás os mandamentos’. Fazer a vontade de Deus não é outra coisa senão
‘permanecer fiel’, ou seja, fazer esforço para corresponder à sua oferta com
reconhecimento. ‘Esta Lei que hoje te prescrevo não está além de teus meios nem
fora de teu alcance... pois a Palavra está perto de ti, ela está em teu
coração’. (Dt 30,11.14)”
Nas palavras de Santo Irineu de Lião
[130-202 d.C], “imposta a escravos, a Lei educava a alma a partir do exterior e
do corporal, levando-a como por uma corrente até a submissão dos mandamentos, a
fim de que o homem aprendesse a se acomodar a Deus. Mas o Verbo libertou a alma
e ensinou a purificar o corpo a partir do interior, a partir da vontade e do
coração. Desde então, era preciso que fossem suprimidas as correntes da
servidão, graças às quais o homem pôde se formar e, de agora em diante,
seguisse a Deus sem cadeias. Mas era preciso que também fossem ampliados os
preceitos da liberdade e acrescia a submissão ao Rei, para que ninguém,
voltando atrás, se mostrasse indigno de seu Libertador.”
Orai
sem cessar: “Oh! Quanto eu amo a tua Lei!” (Sl 119,97)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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