Levou-o
para fora da aldeia... (Mc
8,22-26)
Não foi um gesto isolado de Jesus.
Mais de uma vez, como quando ressuscitou a filha de Jairo (cf. Mc 5,40), Jesus
afasta da multidão incrédula – e até mesmo zombeteira! – aquela pessoa a quem
irá curar em seguida. É como se a falta de fé da maioria dos presentes
impedisse a ação de Jesus (cf. Mc 6,5-6).
A multidão é o espaço da
incredulidade. Ali, em geral, o burburinho da turba e os gritos de seus
adversários deixam Jesus surpreso com o extremo grau de fechamento à Palavra de
Deus, com a radical falta de fé. Ao contrário, é na intimidade que Jesus faz
revelações a Nicodemos. É no recesso do lar que ele cura a sogra de Pedro. Foi
no interior da casa que a mulher Cananeia conseguiu a libertação de sua filha.
E os dez leprosos não foram curados espetacularmente, diante de Jesus, mas
enquanto caminhavam para Jerusalém. Já diante da corte de Herodes, Jesus se
recusa a dizer uma única palavra (cf. Lc 23,8-9).
Nas ocasiões em que Jesus chegaria a
manifestar seu poder diante de um grupo maior, sempre enfrentou problemas com
as pessoas ali presentes. Foi assim nas reuniões da sinagoga (Mc 3,1ss, quando
decidem matar Jesus), ou à beira da estrada (Lc 18,35ss, quando fazem de tudo
para calar o cego). Decididamente, as multidões não ajudam muito os servidores
de Deus!
Além do mais, é imprevisível o humor
da multidão. No Domingo de Ramos, quando Jesus Cristo entrou em Jerusalém, a
turba entoava hinos de louvor e clamava “hosanas ao Filho de Davi”. À passagem
do Rabi da Galileia, estendiam seus mantos no chão, como quem acolhe o rei
vencedor. Cinco dias depois, no pretório de Pilatos, muitos daqueles populares
engrossaram o coral que urrava: “Crucifica-o! Crucifica-o!”
Todo este painel deve levar-nos a
apostar poucas fichas em manifestações de massa e, naturalmente, a valorizar as
celebrações mais íntimas, bem como os momentos de oração pessoal e de
silenciosa meditação. Os mestres espirituais insistem há séculos na necessidade
do silêncio e do recolhimento para discernir a vontade de Deus para nossas
vidas.
Não quero dizer que sejam inúteis os
“shows” com intenção evangelizadora, mas é cada vez mais necessário discernir a
relação custo e benefício em promoções desse tipo. Não sabemos ao certo o que
ocorre, de fato, no interior dos corações, depois que passa o efeito da emoção
despertada e da hipnotizante enxurrada de decibéis...
Orai
sem cessar: “Feliz o homem que pôs sua confiança
no Senhor!”(Sl 40,5)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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