Com oração e
jejum... (Mc
9,14-29)
Mais um contraste nos Evangelhos:
montanha versus planície.
Na planície, a multidão agitada,
ruidosa e... frágil na fé. Os pobres discípulos de Jesus estão incluídos na
multidão que se vê impotente diante do demônio que agita terrivelmente um jovem
possesso.
Um parêntese: é claro que eu
acredito na existência de demônios (e estou muito bem acompanhado de toda a
Tradição eclesial e do testemunho do Papa Paulo VI). Para aqueles racionalistas
que insistem em traduzir as possessões do Evangelho como casos de epilepsia
(doença desconhecida naquela época – garantem eles), sugiro apenas que digam
aos senhores médicos (de hoje) que o remédio para tal enfermidade é... jejum e
oração...
Seja como for, do outro lado está a
montanha, lugar do encontro com Deus (como atestam Abraão, Moisés e Elias). E
da montanha, onde passou a noite inteira em jejum e oração, desce Jesus e
encontra cá em baixo a balbúrdia feita de capetas, encapetados e exorcistas que
não conhecem seu ofício.
Feito o trabalho, libertado o
garoto, o pai feliz da vida, é a hora de os discípulos amuados perguntarem ao
Mestre: “Como explicar o nosso fracasso? Por que não pudemos expulsar o
demônio?” E Jesus, curto e grosso: “Esta espécie de demônios (ora, ora... então
há várias espécies de epilepsia, hein?!) com nada se pode expulsar, a não ser
com oração e jejum.” No latim de São Jerônimo:
“Hoc genus in nullo potest exire nisi in oratione”.
Algum
leitor estará torcendo o nariz: “Jejum e oração?! Que coisa mais arcaica!” Ora,
a água vegetomineral dos tempos da vovó pode ser um remédio arcaico, mas faz
efeito ainda hoje. E os capetas do tempo de Jesus Cristo são os mesmos de nosso
tempo, ainda que mais treinados e especializados.
O velho remédio ainda vale? Responde
o mestre da teologia ascética e mística (matérias ignoradas nos seminários de
hoje!) Ad. Tanquerey. Segundo ele, para fazer exorcismos (aliás, ministério
exclusivo de sacerdotes especialmente autorizados pelo bispo diocesano!)
“convém preparar-se para essa temerosa função por meio de uma confissão humilde
e sincera, para que o demônio não possa lançar em rosto aos exorcistas as suas
faltas; e pelo jejum e oração, visto haver demônios que não cedem senão a estes
meios.” (nº 1546, 1.)
Prudência e caldo de galinha, dizia
vovó, não fazem mal a ninguém...
Orai
sem cessar: “Senhor, tu me libertas dos meus
inimigos.” (Sl 18,49)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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