Amai
vossos inimigos! (Mt 5,38-48)
Eis a novidade do Evangelho: querer
o bem de quem nos faz mal. Não admira tantos façam caretas ao ouvir este
mandamento que está no coração da Boa Nova de Jesus. É bem mais fácil lembrar o
direito de defesa, recorrer aos tribunais ou escolher uma reação no variado
leque das vinganças humanas...
A situação parece ainda mais grave
quando tomamos consciência de que o próprio Jesus praticou o que havia
ensinado. Em plena crise, sob tortura, cravado num poste, o Filho de Maria
reza: “Pai, perdoai-lhes. Eles não sabem o que fazem!” (Lc 23,34) Pisando suas
pegadas, o primeiro mártir da Igreja, Estêvão, repetirá a mesma oração ao ser
apedrejado pelos judeus (cf. At 7,60).
O staretz Silvano do Monte
Athos [1866-1938] reflete a passagem:
“O Senhor nos falou: ‘Amai vossos
inimigos!’ Aquele que ama seus inimigos é semelhante ao Senhor. Mas só é
possível amar seus inimigos pela graça do Espírito Santo. Quem não ama seus
inimigos não pode conhecer o Senhor, nem a doçura do Espírito Santo. O Espírito
Santo ensina a amar os inimigos a ponto de se ter compaixão deles como dos
próprios filhos. Por isso, desde que alguém te feriu, reza a Deus por ele e
guardarás a paz e a graça divina. Sem rezar pelos inimigos a alma não pode ter
paz.”
Muito estranho para nosso gosto...
Entendemos a paz como a supressão dos inimigos, o fim das hostilidades, a
supremacia de nossos exércitos. Aí, vem Jesus de Nazaré a ensinar que a guerra
se acaba com... amor?!
Silvano dá um exemplo: “Abba
Paíssios rezava por seu discípulo que havia renegado a Cristo, a fim de que o
Senhor o perdoasse. E o Senhor ficou tão contente com essa oração, que lhe
apareceu e disse: ‘Paíssios, por que rezas por aquele que me renegou?’
Respondeu Paíssios: ‘Senhor, se tu és misericordioso, perdoa-o!’ Então, o
Senhor lhe disse: ‘Ó Paíssios, por teu amor tu te assemelhaste a mim’ – a tal
ponto é agradável ao Senhor a prece pelos inimigos.”
Em seus 13 anos de cárcere, o
Arcebispo de Saigon, F.-X. Nguyên Van Thuân tratou tão bem seus carcereiros
comunistas, que estes perceberam nele um traço especial da espiritualidade
cristã. Ele declarou: “Passei a metade da minha vida
esperando. É verdade: todos os prisioneiros, inclusive eu, esperam a cada
minuto sua libertação. Porém, depois decidi: Eu não esperarei. Vou viver o
momento presente, enchendo-o de amor”.
Orai
sem cessar: “O amor é forte como a morte.” (Ct 8,6)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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