À nossa imagem... (Gn 1,20-2,4a)
De todos os
seres chamados à existência pelo Criador, só o ser humano teve como “modelo” a
imagem e a semelhança do próprio Deus. Uma imagem absolutamente “exclusiva”. É
daí que brota a insuperável dignidade da pessoa humana, profundamente ferida
quando homens e mulheres são tratados como cobaias, simples animais, massa de
mão-de-obra, objetos de uso e descarte.
Esta
exclusiva imagem divina se manifesta no homem e na mulher através de vários
atributos: a inteligência, a vontade livre, a imaginação, a capacidade
criativa, entre outros dons magníficos. Mas as marcas do molde inicial
transparecem acima de tudo em nossa capacidade de amar.
Na Exortação
apostólica “Familiaris Consortio” (1981), sobre a função da família no
mundo de hoje, ao refletir sobre o desígnio de Deus sobre o matrimônio e sobre
a família, o Papa João Paulo II escrevia:
“Deus criou
o homem à sua imagem e semelhança: chamando-o à existência por amor,
chamou-o ao mesmo tempo ao amor. Deus é amor e vive em si mesmo um
mistério de comunhão pessoal de amor. Criando-o à sua imagem e semelhança e
conservando-a continuamente no ser, Deus inscreve na humanidade do homem e da
mulher a vocação e, assim, a capacidade e a responsabilidade do amor e da
comunhão. O amor é, portanto, a fundamental e originária vocação do ser
humano.” (FC,11.)
Um teólogo
de nosso tempo, o esloveno Marko Ivan Rupnik, comenta que, tendo sido criado à
imagem de Deus, o homem enquanto ser está orientado para o seu Protótipo. Assim
como uma criança depende da imagem paterna para crescer, “a criatura humana tem
uma constante necessidade de manter diante de si o seu eu Original”. Sem esta
referência, acabamos des-umanizados...
Quando a
Bíblia chama a Jesus Cristo de “novo Adão”, deixa ainda mais claro que nosso
modelo a ser imitado é o próprio Senhor. Em outros termos, nossa humanização só
atingirá seu clímax na medida em que nos voltarmos para Deus, nossa fonte e
nosso porto de chegada. Qualquer outro modelo ou ídolo apenas nos impedirá de
ser aquilo a que somos chamados.
Assim, a verdadeira
religião não consiste no cumprimento de certo número de ritos e celebrações,
mas em uma volta à nossa Fonte. Um progressivo processo de construção da imagem
divina em nós.
Orai sem cessar: “Ó Deus, tu nos criaste para ti, e em vão procura
o nosso coração, até que repouse em
ti.” (S. Agostinho)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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