Quem se humilhar... (Mt
23,1-12)
Não
se busque nos Evangelhos a fria lógica dos cartesianos. Ali, os paradoxos
chegam a espantar. Como nesta afirmação de Jesus: “Quem se exaltar será
humilhado; quem se humilhar será exaltado”.
Você
conhece alguém verdadeiramente humilde? Alguém que não procura erguer o topete
acima do “húmus” e se mantém habitualmente ao nível do solo? Sim, humilde [no
latim, “humilis”] vem de húmus, a
terra. Em geral, deixamos de ser “humildes” quando julgamos que somos anjos ou
super-homens, esquecendo nossa condição “humana”, isto é, amassada na argila da
terra.
Os
reis coroados de ouro têm dificuldades em permanecer humildes. Os pop-stars engalanados de prata acabam
endeusados e proibidos de serem humildes. O mesmo risco correm os sábios, os
acadêmicos (imortais???) e os poderosos. À sua volta, orbita uma legião de
demônios do orgulho e da soberba, da autossuficiência e da autodeterminação.
Aqui se incluem os fiéis que tentam ser bons e virtuosos pelo próprio esforço.
Em consequência – à imagem de Sísifo – todos carregam nos ombros o insuportável
fardo daqueles que só contam com as próprias forças, os próprios recursos, e
nada esperam da Graça de Deus. Esse Deus doador que sempre socorre os humildes
que bradam aos céus...
Jean
Bar Kaldoun [Séc. X], monge da Mesopotâmia do Norte, inspira-se este Evangelho:
“Sê
humilde, meu filho, a fim de adquirir a obediência que te fará reinar acima de
tudo o que há na terra. A humildade é a mãe da obediência; ela é a primeira das
virtudes que deves praticar.
Temos
aí o testemunho verdadeiro do bem-aventurado apóstolo que, desejando mostrar a
grandeza da virtude que fez surgir neste mundo o Cristo, nosso Senhor, deixa de
lado todas as virtudes daquele que é a própria súmula de todas as virtudes, e
se apressa a falar desta mãe da obediência, essa nutriz de todas as virtudes,
dizendo: ‘Ele humilhou a si mesmo e foi obediente até a morte’. (Fl 2,8) De
fato, era impossível que ele fizesse transparecer esta obediência até a morte,
doando-se por todos voluntariamente, sem uma perfeita humildade.
Assim,
aquele que devia sofrer voluntariamente a morte por todos, ele, o templo da
divindade, humilhou-se a si mesmo com admirável humildade. Obedeceu a seu Pai,
que o enviou ao mundo para que o mundo viva por ele. E ele entregou-se a uma
morte terrível. Ele se fez maldição por nós.”
Orai sem cessar: “Jesus, manso e humilde de
coração, faz meu coração semelhante ao teu!”
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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