Uma medida boa... (Lc
6,36-38)
Qual
será a medida do amor? Qual a régua do perdão? Qual o gabarito da misericórdia?
Estamos sempre atrás de “medidas”, preocupados em fugir de uma entrega total,
de uma rendição incondicional. E quando alguém se mostra generoso e apaixonado,
agindo fora da medida racional, já não conseguimos evitar as críticas: “Carola!
Louco! Fanático!” Não foi assim que o pai comerciante reagiu às esmolas
excessivas feitas por Francisco de Assis?
Logo
após editar o estranho mandamento do amor aos inimigos (Lc 6,27ss), Jesus
(exagerado, não?) acrescenta outro imperativo duro de engolir: ser
misericordioso na medida em que o “nosso” Pai também o é.
E
para nos fornecer uma “medida” no exercício da misericórdia, Jesus de Nazaré
toma de empréstimo o comportamento típico de um comerciante de grãos que deseja
conquistar o freguês palestino. É o exemplo da “medida boa” (v. 38). O
comerciante oriental está ali no mercado de rua. Costuma ficar agachado
enquanto atende o comprador. Poderia ser o trigo, por exemplo. Como age o
mercador?
Ele
usa uma medida em forma de cone, que está presa entre seus joelhos. Derrama
sobre ela os grãos de trigo, até enchê-la. Em seguida, dá umas pancadinhas à
sua volta, de modo que os grãos se acamam e surge mais espaço no cone. O
vendedor acrescenta mais trigo, para preencher o novo espaço. Gira rapidamente
a medida em suas mãos, os grãos se juntam e aparece novo espaço. Torna a
enchê-la. Agora, ele usa as duas mãos para apertar o trigo para baixo e o cone
volta a oferecer um vazio no alto. Enfim, ele volta a preenchê-la e ainda faz
um pequeno monte de grãos na parte superior.
Esta
é a “medida boa, socada, sacudida e transbordante”. Não cabe mais nada. Uma
medida em plenitude. Muito acima do normal, acima do “legal”, bem acima do
sistema métrico.
Que
é que Jesus pretende ensinar? Com a imagem do mercador, o Mestre nos ensina:
Deus é assim. Assim é o “vosso” Pai. Ele sempre nos servirá além de toda medida
humana. Deus é exagerado, pródigo, farturento...
Deus não é avarento: jamais fará economia do seu amor por nós!
Depois
de termos sido alvo de tanto amor, tanto perdão, tanta misericórdia – nós que
estávamos condenados por nossos pecados (cf. Rm 3,23) -, ainda nos parece
excessivo o mandamento de amar os inimigos?
Orai sem cessar: “O
Senhor é bom; eterna é a sua misericórdia!” (Sl 100,5)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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