Comoveu-se até as entranhas... (Lc
15,1-3.11-32)
Sim, quando o
filho perdido apontou na estrada, de volta ao lar, o Pai sentiu suas entranhas
se comoverem. Pena que nossas traduções falem apenas de “compaixão”, que soa
como algo aéreo e abstrato.
Ora, foi uma
reação profunda, psicossomática, uma “dor na barriga” que o Pai experimentou.
No grego original de São Lucas, está o verbo “esplagnísthe” [esplagcnisqh]. Da mesma raiz grega, temos em
português o adjetivo “esplênico”, que se refere ao baço, um órgão de nosso
abdome. Não é no coração! É no ventre que dói a emoção de ver o filho de
volta...
Estamos
diante de uma página única da literatura universal! O comovente drama do “filho
pródigo”, como ela é conhecida, ou do “filho recuperado”, pois este é o seu
desfecho. Ou ainda melhor, o drama do “amor do Pai”, que se projeta além de
toda expectativa humana, inclusive a do próprio filho, que regressa disposto a
ser rebaixado à mera condição de servo da casa.
Nosso olhar
se perde nas aparências. Ficamos presos à casca das coisas: um jovem perdulário
que “queima” a herança do pai, exigida com ele ainda vivo. Uma vida desregrada
longe de suas raízes familiares. A degradação social. A convivência com os
porcos. O desprezo dos estrangeiros. A conversão-pela-metade, pois não leva em
conta o amor paterno. E, acorrentados a aspectos legais e morais, aqui no
detemos...
Assim, não
vemos o essencial: a estatura filial, a natureza inalienável do jovem fujão
permanece intacta, apesar dos erros e dos pecados. Uma vez filho, sempre filho!
E ser filho significa ser objeto de um amor sem medidas, amor anterior, amor
incondicional. Nada pode corroer sua filiação, nem mesmo um pedido de demissão.
Estamos
diante do grande mistério em nossa relação com Deus (o Pai da parábola): a
GRAÇA! Não é por mérito que somos filhos. É por Graça. É por um amor fontal,
amor que brota de uma fonte infinita, inesgotável. Somos salvos porque somos
amados...
O filho mais
velho – tão honesto! Tão odiento! – não compreende estas coisas. Logo ele, que
nunca ousou pedir um cabrito ao pai! Ele também não sabia que era amado. Que
“tudo o que é meu é teu” (v. 31)...
E o filho
mais novo continua com os mesmos direitos de sempre. Isto inclui a túnica de
festa, as sandálias e o anel. E, claro, inclui os beijos do Pai...
Orai sem cessar: “Águas
torrenciais não puderam extinguir o amor...” (Ct 8,7)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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