domingo, 19 de março de 2017

PALAVRA DE VIDA

Dá-me de beber! (Jo 4,5-42)
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               No mínimo, estranho o pedido de Jesus à mulher de Samaria. Afinal, Jesus é a fonte da vida. Por que pediria água à samaritana?

               Ora, a Fonte tem sede. Daí o pedido que faz. E a pobre mulher, de onde iria tirar essa água? Do poço de Jacó? Deixo a resposta com outra mulher, Etty Hillesum, de um trecho de seu diário, anotado em 25 de agosto de 1941:
               “Existe em mim um poço muito profundo. E nesse poço existe Deus. Às vezes, chego a atingi-lo. Mas o mais das vezes pedras e cascalho obstruem esse poço e Deus é sepultado. Então, é preciso trazê-lo à luz do dia. Há pessoas, eu suponho, que rezam com os olhos erguidos para o céu. Procuram por Deus fora delas. Há outras que baixam a cabeça e a escondem nas mãos; penso que estas buscam por Deus em si mesmas.”
               Aí está: Jesus sabia que Deus morava no íntimo daquela mulher. Pouco importa o abismo moral em que ela talvez tivesse caído. Ainda havia no subterrâneo de seu ser uma alma capaz de matar a sede de Deus.
Este é o grande milagre realizado pela Graça de Deus quando o Espírito Santo toca o coração de um pecador, como a recordá-lo de que nada pode torná-lo refratário e sem comunicação com a Fonte da Vida. Sem nenhum mérito do pecador, a misericórdia divina insiste em buscar por ele. Sem nenhum esforço ou iniciativa da pessoa decaída, Deus ainda a ama e se interessa por ela.
Os honestos costumam estranhar tais excessos do Amor. Reclamam da aparente injustiça manifestada num amor “sem vergonha”. Para os honestos, o amor deve ser “merecido”... Ora, todo amor é excessivo. Todo amor quebra os manuais de lógica. Todo amor perdoa o imperdoável. Ou... não é Amor...
               Deixemos a calma do poço de Jacó, nas imediações de Sicar, e transportemo-nos para a montanha do Calvário, onde se desenvolve o drama da salvação. Ali, cravado na cruz, o mesmo Jesus repete: “Tenho sede!” (Jo 19,28) Não apenas a extrema sede material de um corpo desidratado e exangue, mas acima de tudo a sede de almas, a sede de salvar a todos “quando eu for erguido” (Jo 12,32).
               Vinte séculos depois, Deus continua com sede. Uma sede oceânica, abissal. Se fosse preciso, Jesus morreria de novo no alto da montanha. E aqui na planície, morrendo de sede, buscando fontes poluídas nos desertos da cidade, a multidão não sabe que o Poço está no âmago de seu próprio ser. Quem se dispõe a recordá-la disso?
Orai sem cessar: “A minha alma tem sede de Deus, do Deus vivo!” (Sl 42,3)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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