Tome a sua cruz... (Lc 9,22-25)
Este
Evangelho não é para todos. Não é para a multidão amorfa. Não é para o público
agitado dos “shows” de evangelização. Sua frase nuclear começa por uma
condicional: “Se alguém me quer seguir...”
Logo, trata-se de um convite para o futuro discípulo. Só para discípulos...
O
miolo do convite é este: “Tome cada dia a sua cruz e siga-me!” E é seguido de
violento paradoxo: quem pretende salvar a vida, perde a vida. Quem aceita
perdê-la, acaba por salvá-la. E o inevitável divisor de águas é... a cruz!
Logo
a cruz?! Logo esse antigo instrumento de tortura que os romanos tomaram de
empréstimo aos persas para levar à morte escravos fugidos e revoltosos?
Suplício tão brutal que não podia ser infligido a um cidadão romano, como Paulo
apóstolo?
Tomar
a cruz... Abraçar a cruz... E logo se erguem vozes de rebate a nos acusar de
masoquismo, pois não conseguem perceber a relação necessária entre o sofrimento
aceito livremente e o amor que explode no coração. Quem ama sofre. É no dia do
sofrimento que o amor alegado pode ser comprovado.
Meditando
nisso, escrevi o soneto “Declaração de
Amor”:
Eu quero te amar, bendito lenho,
De onde o Sangue escorre como um fio:
Se mergulho minha alma nesse rio,
Eu tenho a salvação, a vida eu tenho!
Se ao Gólgota
rochoso, humilde, venho,
É porque tenho o
coração vazio
E nada achei que me
aquecesse o frio:
Nem ouro, nem a
força, nem o engenho...
Aqui estou, ó Cruz, com meus cansaços,
Pra me entregar e abrir de vez os braços,
Unindo para sempre os meus aos teus...
Quando a morte
passar, levando tudo,
Hão de encontrar
aqui meu corpo mudo,
Mas a minha alma
voará pra Deus!
Orai sem cessar: “Nisto temos
conhecido o amor: Jesus deu sua vida por nós.” (1Jo 3,16)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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