quinta-feira, 23 de março de 2017

PALAVRA DE VIDA

O dedo de Deus... (Lc 11,14-23)
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                Os inimigos de Jesus perseveram em seu fechamento à mensagem do Evangelho. Nada consegue quebrar as muralhas dos corações empedernidos. Diante do poder manifestado em Jesus, chegam ao máximo da recusa: “É pelo poder do demônio que ele expulsa os demônios!”

               Jesus retruca: “Mas se é pelo dedo de Deus... é porque o Reino de Deus já chegou entre vós”.
               O dedo de Deus. Esta é uma imagem bíblica rica de significados para os israelitas de todos os tempos. É um símbolo da atuação da força divina. No livro do Êxodo (8,15), quando Moisés golpeia a poeira do solo com seu bastão, surge uma nuvem de mosquitos que assola os egípcios. Os magos do Faraó identificam a fonte daquele poder: “É o dedo de Deus!”
               A própria Lei do Sinai fora escrita pelo dedo de Deus: “O Senhor me havia dado duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus, conforme em tudo às palavras que ele vos dissera do meio do fogo”.
               Também o salmista se deslumbra diante do poder divino manifesto na Criação: “Sim, eu vejo teus céus, a obra de teus dedos, a lua, as estrelas que sustentas”. (Sl 8,4 – Bíblia de Chouraqui)
               Os Padres da Igreja associaram à Trindade três símbolos correntes na Bíblia: o braço remete ao Pai; a mão, ao Filho; o dedo, ao Espírito Santo. Se Deus ergue o braço, isto significa que ele vai entrar em ação: “Pela força de teu braço [os egípcios] ficaram imóveis como pedra”. (Ex 15,16) Os ícones orientais mostram a ação trinitária pela figura do braço que sai da nuvem, mostrando a mão de onde descem as linhas luminosas que representam o Espírito.
               Habitualmente, Jesus cura o enfermo ou limpa o leproso com um toque de suas mãos. Mas há uma cura em que ele enfia o dedo nos ouvidos do surdo-mudo para “abrir-lhe” a audição. Segundo a narrativa de Marcos, “levando-o à parte, longe da multidão, Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou-lhe a língua”. (Mc 7,33). Assim, ele realiza a cura através do Espírito Santo, que repousa sobre ele (cf. Lc 4).
               Esta é a origem da imagem litúrgica presente em antigos hinos da Igreja, como o “Veni, Creator”, onde o Espírito Santo é poeticamente chamado de “digitus paternae dexterae”, isto é, “dedo da mão direita do Pai”.
               De volta ao Evangelho de hoje, recusar o “dedo de Deus” e a graça que ele oferece, confundindo-o com a ação do Maligno, configura o pecado contra o Espírito Santo – o pecado que não tem perdão (cf. Mt 12,31).
Orai sem cessar: “A mão do Senhor não é curta para salvar!” (Is 59,1)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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