O dedo de Deus... (Lc
11,14-23)
Os
inimigos de Jesus perseveram em seu fechamento à mensagem do Evangelho. Nada
consegue quebrar as muralhas dos corações empedernidos. Diante do poder
manifestado em Jesus, chegam ao máximo da recusa: “É pelo poder do demônio que
ele expulsa os demônios!”
Jesus
retruca: “Mas se é pelo dedo de Deus... é porque o Reino de Deus já chegou
entre vós”.
O
dedo de Deus. Esta é uma imagem bíblica rica de significados para os israelitas
de todos os tempos. É um símbolo da atuação da força divina. No livro do Êxodo
(8,15), quando Moisés golpeia a poeira do solo com seu bastão, surge uma nuvem
de mosquitos que assola os egípcios. Os magos do Faraó identificam a fonte
daquele poder: “É o dedo de Deus!”
A
própria Lei do Sinai fora escrita pelo dedo de Deus: “O Senhor me havia dado
duas tábuas de pedra escritas pelo dedo de Deus, conforme em tudo às palavras
que ele vos dissera do meio do fogo”.
Também
o salmista se deslumbra diante do poder divino manifesto na Criação: “Sim, eu
vejo teus céus, a obra de teus dedos, a lua, as estrelas que sustentas”. (Sl
8,4 – Bíblia de Chouraqui)
Os
Padres da Igreja associaram à Trindade três símbolos correntes na Bíblia: o braço remete ao Pai; a mão, ao Filho; o dedo, ao Espírito Santo. Se Deus ergue o braço, isto significa que
ele vai entrar em ação: “Pela força de teu braço [os egípcios] ficaram imóveis
como pedra”. (Ex 15,16) Os ícones orientais mostram a ação trinitária pela
figura do braço que sai da nuvem, mostrando a mão de onde descem as linhas
luminosas que representam o Espírito.
Habitualmente,
Jesus cura o enfermo ou limpa o leproso com um toque de suas mãos. Mas há uma
cura em que ele enfia o dedo nos ouvidos do surdo-mudo para “abrir-lhe” a
audição. Segundo a narrativa de Marcos, “levando-o à parte, longe da multidão,
Jesus pôs os dedos nos seus ouvidos, cuspiu e com a saliva tocou-lhe a língua”.
(Mc 7,33). Assim, ele realiza a cura através do Espírito Santo, que repousa
sobre ele (cf. Lc 4).
Esta
é a origem da imagem litúrgica presente em antigos hinos da Igreja, como o
“Veni, Creator”, onde o Espírito Santo é poeticamente chamado de “digitus paternae dexterae”, isto é,
“dedo da mão direita do Pai”.
De
volta ao Evangelho de hoje, recusar o “dedo de Deus” e a graça que ele oferece,
confundindo-o com a ação do Maligno, configura o pecado contra o Espírito Santo
– o pecado que não tem perdão (cf. Mt 12,31).
Orai sem cessar: “A
mão do Senhor não é curta para salvar!” (Is 59,1)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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