Queres ser curado? (Jo 5,1-16)
38
anos de paralisia! Tempo demais! Depois de tanto tempo, corre-se o risco de se
acostumar à dor, resignar-se ao mal, desistir da vida. Aliás, na mentalidade
bíblica, onde o número 40 representa algo completo, com início, meio e fim, o
número 38 pode ser lido como um tempo incompleto. Sim, faltava alguma coisa...
Faltava
o encontro pessoal com Jesus, que se aproxima da piscina de cinco pórticos -
hoje localizada no interior da igreja de Sant’Ana, confiada aos Padres Brancos,
em Jerusalém -, e vê a chocante multidão de doentes, cegos e paralíticos que
esperavam pela passagem do Anjo de Deus que agitava as águas. Esse encontro é a
oportunidade de superar o incompleto, recuperar o sentido da existência.
Mas
é preciso querer. Mais que sentimentos e emoções, é esse núcleo volitivo, bem
no âmago da pessoa, que pode mover a paralisia e mobilizar todo o ser. Sem a
cooperação da vontade, nem Deus faz milagres em nossa vida!
Daí
a pergunta de Jesus, que poderia parecer até ofensiva, pois dirigida a um homem
que vivera uma vida inteira na imobilidade, preso ao leito, em tudo dependente
da caridade alheia. A pergunta é um aguilhão. Ela vem testar a capacidade de
reação do enfermo.
E
como existem paralisias em nossa vida! “Eu sou assim!” “Sempre fizemos deste
jeito...” “Não adianta!” “Já desisti...” “Tarde demais!” São frases comuns,
tantas vezes repetidas, e todas elas apontam para a acomodação com a própria
situação.
Pior
ainda, quando nossas fraquezas e incapacidades nos transformam em vítimas:
aceitar a cura significaria abrir mão de um tratamento especial por parte dos
outros, perder atenções e, acima de tudo, reassumir a responsabilidade por nós
mesmos.
“Queres
ser curado?” A pergunta se dirige também a famílias inteiras que vivem
relacionamentos doentios, a comunidades petrificadas em normas e ritos, mas que
perderam a vitalidade e o sopro do Espírito. Se aceitam a cura de Jesus, podem
experimentar a renovação que irá transformá-las em instrumentos de salvação.
A
Bíblia está cheia de situações aparentemente sem cura, becos sem saída,
barreiras que foram demolidas pelo toque divino. Sara, estéril, chega a rir da
possibilidade de ser mãe, e terá um filho chamado Isaac, ou seja, o “filho do
meu riso”.
No
Evangelho, o paralítico não precisou da água borbulhante para ser curado.
Bastou a Palavra de Jesus: “Levanta-te e anda!” Ouviremos sua Palavra?
Orai sem cessar: “Dá-me vida,
Senhor, segundo a tua Palavra!” (Sl 119,107)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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