Acreditou na palavra... (Jo
4,43-54)
“Só
acredito naquilo que eu vejo!” Este é o princípio de muitos seguidores de Tomé,
o apóstolo. Aparentemente racionalista, este mesmo princípio cai por terra
quando alguém leva um choque elétrico e também... cai por terra, sem ter visto
a corrente que o “aterrou”... Não se vê, mas é real...
No
Evangelho de hoje, temos o polo oposto: um alto funcionário da corte, cujo
filho estava à morte, foi capaz de “dar crédito” a uma palavra de Jesus. Isto é
crer: dar crédito àquele que fala. Apostar em sua promessa e, mesmo sem sinais
visíveis ou tangíveis, mergulhar na esperança.
Na
verdade, o funcionário do rei pretendia que Jesus se deslocasse até sua casa e
chegasse ao doente. Mas Jesus trocou a estrada por um atalho: sua simples
Palavra.
Dom
Claude Rault, que já conhecemos, também comenta o episódio, associando-o às
Bodas de Caná e ao Prólogo do Evangelho de João:
“Uma
ordem somente, e uma declaração: ‘Vai, teu filho vive...’ Jesus não precisa
descer. Sua palavra basta. Ela já mudou a água em vinho (Jo 2): ‘Fazei tudo o
que ele vos disser... Vai, teu filho vive...’ Nenhum sinal prévio, nada de
visível. Nem mesmo um gesto. Uma palavra: ‘Vai, teu filho vive!’ E o homem
acreditou na palavra que Jesus lhe dissera e pôs-se a caminho.
Eis
uma palavra operante, uma palavra criadora que deixa a fé sem alternativa. O
homem acreditou. E era isto que Jesus esperava dele. Uma fé que põe a caminho.
Como a fé de Abraão. A fé é antes de tudo uma caminhada interior.
Ela
é adesão a uma palavra que me é dita. É um SIM prévio, na confiança de que
aquilo que me é dito assim será. ‘No começo era a palavra... tudo foi feito por
ela, e sem ela nada foi feito’, nos diz o Prólogo do Evangelho.
O
homem percebeu que existia um nexo entre a palavra de Jesus e a vida. ‘Nela
estava a vida’. – ‘Vai, teu filho vive!’ A fé é trabalho. Não é beata
passividade, espera... Podemos ver que esse homem trabalhou em profundidade.
Ele se põe a caminho. Ele parte... A palavra lhe bastou porque ele sabe que uma
palavra que vem daquele homem é uma palavra que faz o que ele diz.
Preciso
de sinais para crer? É preciso pedir sinais? Se me são dados os sinais que eu
peço, onde está o desafio da fé? ‘Se não virdes sinais e prodígios, vós não
acreditareis?’ (Jo 4,48)”
Orai sem cessar: “Creio,
Senhor, mas socorre minha falta de fé!” (Mc 9,24)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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