Se ele pedir um pão... (Mt 7,7-12)
Admirável
a pedagogia do Mestre de Nazaré! Notável a sua didática! Ensina de modo claro,
simples, utilizando situações e figuras do dia-a-dia da Palestina. Exatamente
aquele meio onde se come pão feito no quintal, no forno de pedra; onde a falta
de carne é suprida com os ovos e com os peixes de Genesaré.
E
Jesus quer mostrar o insuperável amor de Deus por seu povo. Para isso, ele
recorre à situação familiar, quando o pai é o encarregado de alimentar os
filhos. Com um tríplice contraste, o Rabi vai argumentar pela via do absurdo:
pedras em lugar de pão, serpente em lugar de peixe, escorpião em lugar do ovo.
Não
é fortuita a escolha dessas imagens. Há entre elas uma relação de semelhança,
como bem acentuou Joachim Jeremias em um comentário. O pão caseiro da
Palestina, onde não havia padarias como as nossas, é do tipo “pão sírio”, de
forma achatada como um disco. Exatamente no formato das pedras da região. No
Mar da Galileia, havia muitos peixes de morfologia anguiforme (com o desenho de
enguias), em tudo semelhantes a serpentes. E o escorpião do deserto vivia
dentro de uma espécie de casulo: branco e ovoide, com a aparência de um ovo.
Ora,
nada mais fácil que trapacear com uma criança pequena e, iludindo-a com as
aparências, dar-lhe uma pedra em vez de pão. A cobra em lugar do peixe. O
lacrau em lugar do ovo. Em sua lição magistral, Jesus acentua o contraste: o
pão é macio, quente, orgânico; a pedra é dura, fria, inorgânica. O peixe é
manso, indefeso; a serpente é agressiva, venenosa. O ovo traz em sua gema o
germe da vida; o escorpião traz em sua cauda o veneno da morte.
É
a hora de Jesus dar uma laçada e concluir a lição: “Vocês fariam isso?
Enganariam assim aos seus filhos? Dariam pedra por pão? Cobras por peixes?
Morte por vida? Ora, se vocês – que são maus – sabem dar boas coisas a seus
filhos, quanto mais o Pai do céu – que é bom! – dará a seus filhos muitas
coisas boas...”
A
síntese devia ser óbvia: “Pedi e recebereis!” Quem pede, recebe. Batendo à
porta, ela se abrirá. Vocês não rezam a um deus cruel. Não pedem esmolas a um
feitor indiferente. Não precisam arrancar os dons do céu a golpes de aríete. É
a um Pai que você se dirigem quando rezam. Ele sabe de que vocês necessitam.
Não deixará que lhes falte o essencial à vida...
Rezo
como filho? Como mendigo? Como réu?
Orai sem cessar: “De teus filhos farás príncipes
sobre a terra!” (Sl 45,17)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário