Depois, vem... (Mt
5,20-26)
Sim,
depois. Não antes. Não enquanto alimentas ódio e ressentimento no
coração. O rancor contaminaria a oferta que levas até o altar. Procura o teu
irmão, reconcilia-te e depois – só depois – estarás em condição de
prestar culto ao Senhor.
Aqui,
estamos diante de algo novo em relação à Primeira Aliança. Nesta, a
reconciliação do povo com seu Deus se fazia por meio de vítimas e oferendas
levadas ao altar. O sangue das vítimas era aspergido sobre a assembleia em
ritual de purificação. Parte da carne – a melhor e mais gorda! – era queimada
para Deus em holocausto. Outra parte era oferecida ao povo em refeição. Comer
parte da vítima consagrada ao Senhor significava estar em comunhão com ele.
Agora,
em clima de Nova Aliança, vem Jesus e chama nossa atenção para um aspecto
ligado à coerência da fé e do culto divino. Podemos assim resumir a questão:
como pretendes estar em comunhão com Deus enquanto estás em conflito com teu
irmão, que pretende, igualmente, estar em comunhão com o mesmo Deus? Deus
estaria assim fraturado e dividido? Teremos quistos de ódio no coração de Deus?
Ou
ainda: pretender ser alvo do amor de Deus enquanto alimentas alguma modalidade
de ódio (silêncios, reservas, antipatias, formação de partidos, rancores e
ressentimentos...) não é uma incoerência? Ou esqueces que o mesmo Deus ama
também ao irmão a quem aborreces?
O
ensinamento de Jesus nos desperta para a exigência de perdão, sem o qual nossa
oferenda é apenas um gesto ritual vazio de conteúdo existencial, já que nossa
vida desmente o rito que celebramos. Como diria o poeta, há distância entre intenção
e gesto... E Deus, que lê os corações, certamente não acolherá a oferenda posta
sobre a pedra do altar.
Sim,
temos vítimas melhores que os bois e novilhos da Primeira Aliança. Não seria o
caso de sacrificar a Deus o nosso orgulho? Os repentes de soberba? A ilusão que
fazemos sobre nossa própria imagem? A avaliação inflacionada das ofensas que
julgamos ter recebido de nosso irmão? Estas vítimas, com certeza o Senhor há de
acolher com alegria, com muito mais prazer do que acolheria o sangue dos outros...
Não
que o amor ao próximo fique acima do amor a Deus. Claro que não. Mas a falta de
um desses amores viria a desmentir a existência do outro. Afinal, filiação e
fraternidade se abraçam...
Orai sem cessar: “Vai, eu te envio a teus irmãos!” (Gn
37,13)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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