Guarda
tua espada!
(Jo 18,1 - 19,42)
Cresce cada vez mais no planeta o
conceito de que é preciso abolir as religiões para que a sociedade possa,
enfim, viver em paz. Os novos fiéis dessa crença antirreligiosa examinam a
História e pretendem que os conflitos humanos brotam das diferenças na fé. Os
recentes casos de terrorismo islâmico sustentariam seu argumento.
Se possível, pediria ajuda aos
arqueólogos, e eles nos mostrariam as lanças e os tacapes dos trogloditas em um
estrato de tempo ainda não visitado pelos pajés e sacerdotes. Falando mais
claro: muito antes de erguerem o primeiro altar, os homens já se esfolavam
mutuamente pelo controle de um território ou de um rebanho de carneiros. A
violência está na posse, no domínio e no poder, não nos louvores ao Criador.
Hoje, Sexta-feira da Paixão, a
liturgia orienta nossos olhos para o drama do Calvário. Ali, o Filho que nos
foi enviado pelo Pai é preso, arrastado de tribunal em tribunal e, enfim,
assassinado cruamente com a chancela do governador romano e o aplauso do Sumo
Sacerdote judeu. Justo e inocente, Jesus é sacrificado para que se mantenham
intactas as vantagens e conveniências do dirigentes da Palestina.
No momento de sua prisão, Simão
Pedro saca da espada e fere um dos esbirros que prendiam o Mestre. De pronto,
Jesus reage e ordena: “Guarda a tua espada na bainha!” (Jo 18,11) No Evangelho
de Mateus, Jesus acrescenta: “Todos os que usam da espada, morrerão pela
espada”. (Mt 26,52) Bastam estas duas frases para ficar bem claro que a
“religião” de Jesus não tem nenhuma afinidade com a violência e a força das
armas. Se alguém invocasse seu Evangelho como pretexto para invadir, atacar e ferir,
estaria fraudando a mensagem de Cristo.
Ainda no Evangelho de hoje (cf. Jo
18,36), Jesus dialoga com Pôncio Pilatos, que o interroga. E diz com todas as
letras: “O meu reino não é deste mundo. Se meu reino fosse deste mundo, os meus
guardas lutariam para que eu não fosse entregue aos judeus”. Como foi possível
que a mensagem de Jesus fosse deturpada a tal ponto, que acabasse invocada como
justificativa para conquistar lugares sagrados, impor uma religião de Estado ou
perseguir dissidentes? Como é possível que ainda hoje tentem ideologizar o
Evangelho para transformá-lo em arma de revolução social?
A leitura da Paixão de Cristo deve
dar-nos força para encarar a realidade: o cristão é chamado a ser vítima, não
carrasco. O lado do cristão é o lado dos vencidos, não dos dominadores. Quem se
aproxima de Jesus à espera de um trono de poder ou, pelo menos, de uma
subsecretaria, não entendeu nada do Evangelho. A “vitória” que Cristo nos
oferece não virá antes do Calvário.
Seguir Jesus é abraçar a cruz...
Orai sem cessar: “Como cordeiro ao matadouro, ele ficou calado...” (Is 53,7)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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