Com medo e grande
alegria...
(Mt 28,8-15)
O Evangelho da liturgia de hoje
mostra que as mulheres foram as primeiras missionárias do Ressuscitado. Do
Anjo, elas recebem uma tarefa urgente: “Ide depressa dizer a seus discípulos!”
Não há tempo a perder! Cristo ressuscitou e já precede os discípulos na
Galileia! Dois milênios depois, os seguidores de Jesus continuam ainda às
carreiras, tentando alcançar esse Mestre incansável...
Mas o Evangelista anota com
extremo realismo a dose de confusão e ambiguidade que envolve as mensageiras
femininas: elas partem às pressas, “com medo e grande alegria”. A alma humana é
assim: consegue sobrepor as impressões, emoções e sentimentos mais disparatados
como essa mescla de temor e de júbilo. O fato da Ressurreição de Cristo – prova
cabal e definitiva de sua divindade – reacende sua alegria, mas, ao mesmo
tempo, infunde nelas o temor reverente de quem se aproxima do divino. É sempre
com temor e tremor que nos rejubilamos em Deus.
Precisamos aceitar com realismo e
humildade que nossos sentimentos e reações também continuem um tanto “misturados”
depois de tantos anos de caminhada com o Senhor. Seria orgulho e presunção
sonhar com uma fé “quimicamente pura”, sem as marcas de nossa limitada
humanidade.
Diante da mesma tarefa,
experimentamos entusiasmo e inquietação. A mesma missão recebida encontra em
nós a impulsão do entusiasmo e o freio do cansaço. A alma quer e o corpo
hesita. O espírito se inflama e a razão argumenta. Os fracassos de ontem ainda
amortecem a esperança de hoje.
Até mesmo os grandes santos
chegaram a experimentar essas contradições em sua caminhada. Todos eles viveram
fases de desânimo, de dúvidas, de apreensões. Um profeta, como Jeremias, pode
chegar a maldizer o dia em que se deixou “seduzir” por Deus. (Cf. Jr 20,7ss.)
Diante da inesperada prisão de Jesus, seus discípulos fugiram (cf. Mt 26,56b).
Na verdade, o próprio Senhor permite tais estados de alma para purificar nossas
intenções mais profundas.
Assim mesmo, as mulheres se põem
a caminho. Pôr-se a caminho é seguir o Cristo. “Caminho” foi o primeiro nome do
cristianismo. Parece que nunca se chega, mas sempre teremos passos a dar...
O tempo pascal é a ocasião
apropriada para um exame de consciência: com que disposição estou cumprindo a
missão que Deus me confiou? Permaneço estacionado ou já comecei a caminhar?
Orai sem cessar: “Senhor Jesus, que eu nunca
me canse de caminhar!”
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário