Ninguém
te condenou? (Jo
8,1-11)
Apanhada em flagrante adultério, uma
jovem noiva [se já fosse mulher casada, seria condenada à forca, conforme o Sifrei
361 dos rabinos judaicos] é arrastada aos pés de Jesus por um grupo de escribas
e fariseus que pretendem puni-la com a lapidação, conforme estava previsto na
lei mosaica. Uma frágil pomba cercada de falcões sanguinários. Apontam para ela
o dedo indicador da mão direita em um gesto de acusação... Ela deve pagar
o pecado com a morte!
Na verdade, afirma João,
tratava-se de um pretexto para deixar Jesus em má situação. Era como se
dissessem: - “Vamos ver como sai dessa o tal rabi da Galileia, que tanto fala
em misericórdia... Se ele concorda com o apedrejamento, desmente tudo que já
ensinou. Se ele se posiciona a favor da adúltera, podemos acusá-lo de rejeitar
a Lei”. Assim, depois de citar os preceitos que mandavam apedrejar a infratora
(cf. Lv 20, 10; Dt 22, 23), espremem Jesus contra a parede: - “E tu, que
dizes?”
Mas eles mentiam, de certa forma,
pois a Lei mandava aplicar a dura pena não somente contra a mulher, mas também
contra o parceiro de adultério. E Jesus se cala, se inclina e começa a escrever
com o mesmo dedo da mão direita na areia fina do pátio do Templo. Ali, era
exatamente a Terra de Moriá, onde Isaac tinha sido poupado da morte (Gn 22).
Não era lugar de condenação...
E o contraste é ainda mais agudo
quando se leva em conta que a Lei invocada pelos acusadores havia sido gravada
na pedra do Sinai, de modo indelével, e transmitida a Moisés nos ásperos tempos
da Velha Aliança. Desta vez, já em clima da Nova e Eterna Aliança, é sobre a
areia fina que Jesus escreve. Areia que um leve sopro de vento desmancha, a-pagando
os crimes e os castigos. Areias de misericórdia...
Como os acusadores insistem em obter
uma resposta, Jesus, ainda inclinado, manda que a primeira pedra seja atirada
por algum dos acusadores que esteja sem pecado. Depois de rápido exame de
consciência, a começar pelos mais velhos – exatamente os que tiveram mais tempo
para pecar -, eles se vão retirando um a um, deixando a sós Jesus e a pecadora.
O Mestre estende agora – só agora – o dedo indicador para ela e pergunta:
“Ninguém te condenou?” Ela murmura: “Ninguém...”
“Nem eu te condeno” - diz Jesus.
“Vai e não tornes a pecar!” Aquele mesmo Juiz que detesta radicalmente o pecado
sempre terá infinitas reservas de amor pelos pecadores, pois Deus é amor...
Em tempo de vinganças e clamores
populares, chegaremos a compreender a misericórdia divina?
Orai sem cessar: “Meu Deus enviou seu anjo e
fechou a boca dos leões!”
(Dn 6, 23)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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