O próprio Pai vos ama... (Jo 16,23b-28)
Sim, Deus tem por todos nós um amor
incondicional. Deus não nos ama porque nós somos bons, mas porque ELE é bom.
Nem ele esperou que nós o amássemos, pois, como diz S. João em uma de suas
Cartas, “Deus nos amou primeiro”. (1Jo 4,19.)
No entanto, no Evangelho de hoje,
Jesus nos apresenta uma “razão” para o Pai ter por nós um amor de predileção:
“É o próprio Pai que vos ama, por vós me terdes amado e haverdes acreditado que
Eu vim de junto de Deus”. O discípulo convive com Jesus, chega a amá-lo e, por
isso, desperta ainda mais o amor do Pai.
Claro que o Pai já nos amava bem
antes. Afinal, Deus ama tudo o que ele criou, mesmo os filhos rebeldes,
conforme ficou explícito na parábola do filho pródigo, ou melhor, do “Pai
amoroso” (cf. Lc 15,11ss.). Entre o Artista e as obras por ele criadas há um
amor de “paternidade”. Mesmo aqueles que pintam para vender suas telas,
experimentam um certo sentimento de perda ao se desfazerem delas. E nós não
somos telas pintadas: somos criaturas vocacionadas à filiação!
Decerto, há uma gradação no amor de
Deus por suas criaturas: não amaria no mesmo grau uma rocha, um colibri e um
bebê. Este último é dotado de uma alma imortal (exclusiva dos humanos), “capaz
de Deus”, e veio à vida como alguém chamado à amizade e à comunhão com Deus em
um patamar que está fora do alcance dos seres irracionais. Esta descoberta
ajuda a entender que o Filho de Deus tenha morrido por nós, para a nossa
salvação.
O amor e a fé andam juntos. Quem
ama, aposta sua vida no amado. Aliás, como se lê no título de um livro do
teólogo suíço Hans von Balthasar, “só quem ama merece nossa fé, nossa
confiança”. A criança confia nos pais quando se sente amada por eles. Na
tradução de von Balthasar, S. João diz: “Re-conhecemos o amor de Deus por nós
e, então, pudemos crer”. (1Jo 4,16.)
Nossos atos de fé – em especial
aqueles que se manifestam por nossas escolhas, nosso abandono à missão
apresentada por Deus – “estimulam” o amor de Deus por nós. É isso que os
mestres espirituais tentam dizer quando afirmam: “Deus não se deixa vencer em
generosidade!” Amor pede amor. Amor puxa pelo amor.
Que posso fazer para mostrar ao Pai
que eu amo a Jesus?
Orai sem
cessar: “Só em
Deus repousa a minha alma.” (Sl 62,2)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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