Vou para Aquele que me enviou... (Jo 16,5-11)
É a despedida da Última Ceia. Jesus
anuncia que, chegando ao fim de sua missão terrena, está prestes a voltar para
o Pai. Chega ao fim aquele período histórico em que sua presença física podia
ser compartilhada pelos discípulos. Durante cerca de três anos, viveram a experiência
narrada por São João: “nossos olhos viram, nossos ouvidos ouviram e nossas mãos
têm como que apalpado...” (1Jo 1,2.) Agora, porém, é o adeus...
Para os consolar, o Mestre
acena-lhes com a promessa do Espírito Santo, a quem chama de Paráclito ou Consolador.
Mas a tristeza invade os corações dos discípulos. Apegados à pessoa de Jesus,
não conseguem alegrar-se com a volta do seu Senhor para o Pai, tampouco com o
dom do Espírito.
O que nos deveria impressionar,
acima de tudo, é a consciência clara que Jesus manifesta acerca de sua filiação
divina e a sua certeza de que, apesar da iminência da paixão e da cruz, não
será abandonado pelo Pai. É igualmente clara a convicção de que lhe foi dada
uma missão: sente-se o Enviado do Pai.
Esta ligação
ou relação entre Jesus e seu Pai costuma ficar diluída em nossas pregações.
Mesmo ao admirar Jesus como mestre da Palavra, dono de superpoderes (a ponto de
dominar os elementos e curar as enfermidades!) ou profeta que arrasta
multidões, nem sempre mantemos viva diante de nossos olhos a percepção de que o
Pai age em Jesus. Por Jesus. Com Jesus.
Mas Jesus sabe disso: nada faz sem o
Pai (Jo 14,31). Ora ao Pai antes de escolher seus discípulos (Lc 6,12-16). Dá
graças ao Pai pela alegria das experiências missionárias dos apóstolos (Lc
10,21). Agradece antecipadamente ao Pai para, a seguir, chamar Lázaro para fora
do túmulo (Jo 11,41-42). Abandona-se ao Pai na hora de sua angústia (Lc 22,42).
E é dessa maneira que ele nos dá o modelo de vida cristã: uma existência que se
desenrola sob os olhos amorosos de Deus, na estatura de filhos que tudo lhe
devem e, por isso mesmo, vivem em permanente ação de graças.
Tenhamos, ainda, em conta este fato:
em todas as suas orações registradas nos Evangelhos – com exceção do Salmo
recitado na cruz (Mc 15,34) – Jesus sempre se dirige a Deus como o seu Abbá,
termo da linguagem infantil com que uma criança de colo se dirige ao papai.
Enfim, o cristianismo não se reduz a
uma doutrina ou tábua de valores morais. O cristianismo é, acima de tudo, uma
filiação...
Orai sem
cessar: “Abbá, ó
Pai!” (Mc 14,36)
Texto de
Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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