Arranca-o! (Mt
5,27-32)
Nesta sociedade feita de meias
medidas, de conchavos, de facilidades, é natural que a palavra de Jesus
provoque arrepios... A radicalidade do Mestre tem afastado muitos eventuais
seguidores que “até gostavam” de Jesus, mas não tanto assim...
É o velho sonho de um cristianismo
sem cruz, uma espiritualidade sem sacrifício, um serviço sem consagração. A
tentativa infantil de conciliar os “alimentos do mundo” (ah! Les nourritures terrestres!) com o
banquete do Cordeiro. Isto explica a multidão de burocratas da fé ali onde o
Senhor esperava por missionários...
Afinal, é preciso arrancar o próprio
olho para seguir a Jesus? É preciso decepar a mão direita para ser fiel?
Vejamos o comentário do Hébert Roux:
“Diante do sétimo mandamento, como
diante dos outros, não existe homem sem pecado; não há coração puro, pois ‘é do
coração que saem... os adultérios’ (Mt 15,19; Jo 8,3-11). Na presença desta
condenação, Jesus recomenda o sacrifício.
Ele não propõe uma ascese para
chegar à pureza do coração, mas declara que tudo é preferível, mesmo a perda de
um membro, antes que a perdição eterna.
Aqui, ainda, quem pode compreender o
sentido destas palavras e aceitar o sacrifício, senão aquele para quem a
entrada no Reino dos céus se tornou a grande tarefa de sua vida? Isto aparece
ainda mais nitidamente no capítulo 18, que reproduz quase textualmente os
versículos do Sermão da Montanha. É preciso também aproximar deste texto as
palavras de Jesus sobre a renúncia (Mt 10,37; 16,25) e aquelas dirigidas ao
jovem rico (19,21).
Perceberemos, então, que se o
Evangelho exige o desapego como uma escolha que ‘vale mais’, que é ‘mais
vantajosa’ do que a perdição eterna, é unicamente por causa do Reino e porque
ali está Jesus Cristo, que abre as portas para a vida eterna.”
Reino do céu... Vida eterna... Ainda
temos os olhos voltados para estas realidades. Ou gastamos nossos olhos – esses
olhos que não queremos arrancar... – a contemplar as “iscas” que os demônios
semeiam em nosso caminho?
E Deus reserva para nós aquilo que
“os olhos não viram”...
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