Olho por olho!
(Mt 5,38-42)
Monstros
habitam o subsolo do coração humano. Um deles é o ódio. Há muitas formas de
despertá-lo: a traição, o abandono, o desprezo, a calúnia, a agressão, o
estupro, as diferenças étnicas, políticas e religiosas. E todos nós estamos
sujeitos a escolher um adversário, um inimigo, um “diferente” como alvo do
sentimento de ódio que vem à tona de nosso lago interior.
A palavra “ódio”
pode parecer excessiva, mas admite gradações em nosso comportamento: o silêncio
da palavra negada, a neutralidade da indiferença, os apelidos zombeteiros, a
formação de partidos, a sede de vingança, a campanha pela pena de morte. São
degraus de uma escadaria em cujo topo está o assassinato.
Não raro,
alguém tenta justificar a agressão e a vingança por meio do processo de
“redução” de nosso alvo: é só um estrangeiro... é só um negro... é só um
embrião... Como os jovens que atearam fogo a um mendigo: “Era só um índio...” E
esta redução seria nosso pretexto para legitimar a exclusão, o golpe, o aborto.
É como se as vítimas não fossem pessoas como nós; logo, vale tudo!
Como a
tendência de nossa natureza decaída é a de devolver golpe com golpes, a Lei do Primeiro
Testamento sentiu a necessidade de estabelecer algum equilíbrio entre a ofensa
e a vingança: dente por dente, olho por olho (cf. Ex 21,24; Lv 24,20). É a
conhecida “lei do talião”. Parece bárbaro e primitivo, mas já representava uma
evolução, pois se alguém nos quebra um dente, a reação “normal” seria a de
quebrar todos os dentes do agressor: uma reação desmedida.
Isto mudaria no clima da Nova Aliança
assinada no sangue inocente de Jesus que, ao morrer na cruz, rogou ao Pai:
“Pai, perdoai-lhes, porque não sabem o que fazem”. Sim, estou falando a
cristãos, que conhece esta passagem do Evangelho, dentro do Sermão da Montanha,
quando Jesus diz: “Ora, eu vos digo: Não ofereçais resistência ao malvado!” E
ainda: “Amai os vossos inimigos e orai por aqueles que vos perseguem! Assim vos
tornareis filhos do vosso Pai que está nos céus.” (Mt 5,39a.44-45)
Quando um
caricaturista publica uma “charge” de Maomé, sabe que corre risco de vida.
Fatos recentes o confirmam. Se, porém, for uma caricatura zombando de Jesus
Cristo, ele está seguro de que ninguém o agredirá. Creio ver aqui um sinal
concreto de que dos cristãos não se espera uma reação de ódio, pois se sentem
filhos do Pai, um Deus Amor, incapaz de vingança e de ódio.
Orai sem cessar: “O Senhor é bom, eterna é a sua misericórdia!” (Sl 100,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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