sexta-feira, 2 de junho de 2017

PALAVRA DE VIDA

 Tu sabes que te amo...  (Jo 21,15-19)

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            Esta é das passagens habitualmente petrificadas por nossa incapacidade de traduzir... A maioria dos tradutores ignora o essencial da mensagem. Por três vezes, Jesus pergunta a Pedro qual era a qualidade do amor que alimentava pelo Mestre e Senhor. A insistência de Jesus acaba por levar o velho pescador até o pranto. Mas o essencial da passagem permanece na sombra...

            O idioma grego tem diferentes verbos para dizer “amar”, designando diferentes “amores”: eros (amor carnal, mais instintivo), stergethron (amor parental), philia (amor de amizade, ternura) e agápe (amor de adoração, de caridade). Ora, nas duas primeiras vezes, ao perguntar se Pedro o amava, Jesus usa (no texto grego original) o verbo agapáo (αγαπάω), mas Pedro responde com o verbo philéo (φιλέω). Era como se Jesus perguntasse: “Tu me amas de amor?” E Pedro respondesse: “Eu te amo de amizade”...
            Ao traduzir para o latim, na Vulgata, São Jerônimo foi absolutamente fiel ao texto original, tanto que usou verbos diferentes na pergunta (diliges me? – com o verbo “dilígere”, amor diligente, exigente) e na resposta (amo te – com o verbo “amare”, que não tem aquela conotação de superação no amor).
            Comenta o Pe. Spicq, OP: “A distinção dos dois verbos foi notada desde Orígenes, que observa que o agápe evoca algo mais divino e, por assim dizer, um amor espiritual, ao passo que phílein [o verbo amar de amizade] é carnal e mais humano.” Para o mesmo autor, traduzir os dois verbos com igualdade não corresponde à importância da cena.
            Mas o mais importante está por vir: na terceira vez, ao insistir na pergunta, Jesus mudou o verbo. Deixou de lado o verbo mais exigente e usou exatamente o verbo que Pedro empregara antes em suas respostas, como se baixasse o nível da exigência para a atual capacidade do velho pescador... Por isso ele chora... Deus sabe muito bem de nossas fraquezas e incapacidades. Nunca nos pedirá algo além de nossas forças. O Senhor aceita o pouco que lhe podemos dar no momento...
            Entretanto, se os cristãos de Roma, anos mais tarde, contemplarem o mesmo Simão Pedro crucificado, exatamente como seu Mestre se entregara no Calvário, terão compreendido que, enfim, o velho pescador crescera no amor. E poderia, agora, responder: “Sim, Senhor, tu sabes que eu te amo de amor!”

Orai sem cessar: “A benevolência do Senhor é para toda a vida!” (Sl 30,6)

Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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