Ele assumiu as nossas dores... (Mt 8,5-17)
No Evangelho de hoje,
temos uma nítida demonstração da “filantropia” de Deus – seu amor pela
humanidade – que se encarnou na pessoa de Jesus Cristo. Deve servir para nós
como uma vacina diante das teses pessimistas que afirmam que o Criador se
ausentou da Criação e nos abandou a nós mesmos.
Após relatar duas
curas pontuais – o servo do centurião e a sogra de Simão Pedro -, São Mateus
encaixa os dois fatos em uma antiga profecia de Isaías: “Ele assumiu as nossas
dores e carregou as nossas enfermidades”. Um escravo e uma anciã mereceram as
atenções de Jesus, que lhes devolveu a saúde. Deus está conosco.
Estamos diante de uma
evidência: existe uma espécie de tropismo entre a miséria e a misericórdia,
entre o homem que sofre e o Crucificado do Calvário. Quanto mais baixo cai a
pessoa humana, tanto mais se aproxima dela o Redentor dos homens. É na
experiência da fragilidade que nós fazemos contato com o amor que escorre da
cruz.
Quem se importaria
com um escravo doente? Quem tomaria pela mão uma velha febril? O Evangelho nos
mostra Jesus, que desce ao nosso encontro e cuida de nossas mazelas. É o mesmo
que vem libertar os possessos e restabelecer os enfermos (cf. v. 16). Não
admira que a sociedade dos ricos e poderosos, dedicados à acumulação e ao
lucro, experimente tamanho mal-estar diante do Evangelho pregado de Jesus. São
palavras dirigidas aos fracos, aos vencidos, aos ejetados do sistema, àqueles
que não “contam” nos relatórios do FMI.
A rejeição
experimentada por Jesus de Nazaré, em seu tempo, é inseparável de sua figura
incômoda, tão diferente do Messias esperado, aquele “Duce” imaginário que viria quebrar o domínio romano e devolver a
Israel os seus dias de glória. Ele veio pequeno e frágil, desconhecido e
obscuro, misturado aos “anawim”, os pobres de Deus.
Por tudo isto, temo
pelas comunidades e movimentos que exaltam um Cristo vencedor, general a ser
seguido, de cujo poder seríamos chamados a participar. Ao mesmo tempo, vejo que
o povo simples ainda se apega mais à imagem do Crucificado, pois é com este que
os pobres se identificam.
É um grande mistério
o sofrimento humano. Multidões que passam fome. Migrantes escorraçados de sua
pátria. Minorias espezinhadas pelos grupos dominantes. No entanto, entre tantas
alternativas possíveis, o Salvador escolheu salvar-nos pela via da cruz.
Exatamente aquilo que procuramos evitar – o sofrimento e a dor – foi o caminho
que o Filho de Deus assumiu em nosso favor.
Orai
sem cessar: “O Senhor é compassivo com
todas as suas criaturas!” (Sl
145,9)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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