Não
morreu, mas dorme... (Mt 9,18-26)
“A morte é a única barreira que
não pode ser transposta”, observa Jean Valette [+1999], pastor e biblista da
Igreja Reformada da França. Prossegue o mesmo Autor: “Até aqui, o poder de
Jesus sempre derrubara as barreiras, mesmo aquelas da possessão, da loucura, da
lepra, da paralisia, sem esquecer as mais temíveis: as barreiras da Lei e do
pecado. Satã se viu despojado de todos os seus bens.
Como um rio, Jesus revirou tudo o
que se opunha à sua marcha salutar, para levar a vida por toda parte onde
passava. E é ainda para levar a vida que ele avança para a casa de Jairo; e é
tal o seu poder que, pelo caminho, ele cura uma mulher de improviso e sem ter tido
a intenção. Seria impossível descrever com mais simplicidade o caráter
irresistível e o poder superabundante desta caminhada.
A morte, cuja barreira Jesus
pretendeu forçar, impõe-se a ele e seus companheiros desde a chegada a casa. O
triunfo supremo da morte está em não apenas fazer-se aceitar, mas celebrar! Os
prantos e gritos que enchem a morada atestam, como sempre, que a morte não é
simplesmente um acontecimento, mas uma potência cruel que obriga a honrá-la
aqueles que ela esmaga. E os risos que recebem Jesus são como um eco da própria
risada da morte, mostrando como ela sabe fazer com que suas futuras vítimas
saúdem sua vitória.
A este desafio que o recebe desde
a soleira da porta, Jesus responde com a palavra dirigida a todos: “A menina
não morreu, mas dorme”. Esta palavra não exprime apenas uma filosofia otimista
ou serena a respeito da morte. Nem pretende que a morte seja um sono, com tudo
o que esta palavra evoca de imagens pacíficas de repouso e de paz. É na
perspectiva daquilo que irá fazer, e não do que é a morte, que a palavra de
Jesus assume seu sentido. Não porque a morte fosse, em suma, apenas um sono.
Jesus assim a define porque ele vai acordar a menina, para quem a morte não
terá sido mais que um sono. O Senhor não apresenta nenhum ensinamento teórico
sobre a morte e sua verdadeira natureza, mas nega o poder da morte ao afirmar o
poder de Deus.
O incontestável poder que a morte
acabara de manifestar é agora contestado, não em virtude da ideia que Jesus faz
sobre ela, mas pela virtude do ato que irá abolir a morte. Esta palavra nada
nos ensina sobre a morte; ela nos assegura que Deus é também o Senhor desta
potência.”
Em plena cultura de morte, somos
chamados a celebrar a vida e, se necessário, dar a vida pela fé na
ressurreição.
Orai
sem cessar: “Senhor, vós mudastes meu
luto em dança!” (Sl 30,12)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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