Vinde a mim! (Mt
11,25-30)
Os Evangelhos estão cheios de
imperativos: amai! Perdoai! Buscai! Mas nenhum deles me parece tão atrativo
quanto este: - “Vinde a mim!” Mais que mero convite, este imperativo não se
dirige a privilegiados, mas tem alcance universal: “Vinde a mim, todos vós que
estais cansados e sobrecarregados...”
Vale a pena pausar e perguntar: -
“De quem parte o chamado a VIR?” Ora, parte exatamente daquele que VEIO a nós:
o Filho de Deus nascido de Mulher. Sim, primeiramente Jesus Cristo VEM a nós,
revestido de nossas fragilidades, também ele capaz de se cansar e de sofrer. Só
depois ele nos chama a VIR também. Então, por que não IR até aquele que VEIO a
nós?
O chamado de Jesus traz anexa uma
promessa: “encontrareis descanso”. Se a caminhada humana é um êxodo permanente,
se a condição do homem é árdua peregrinação (homo viator...), se muita gente passa pelo “sufoco” nosso de cada
dia, é em Jesus que se faz possível o remanso e a paz.
E por paradoxal que isto nos
pareça, o descanso só se alcança ao tomar o mesmo jugo de Cristo, isto é, ao
abraçar sua cruz, quando nos tornamos livres e abertos ao amor. Nas palavras de
Hébert Roux, “em Cristo, manso e humilde coração, isto é, rebaixado,
crucificado, humilhado, encontra-se o repouso da alma. Esta expressão, também
ela tomada do Antigo Testamento (cf. Jr 6,16), designa aquilo que, em outra
passagem, Jesus chama de ‘paz’ (cf. Jo 14,27)”.
Claro que não se trata daquilo
que o mundo pagão entende por “paz”: tranquilidade absoluta, segurança geral,
celeiros abarrotados, férias na praia... Ao contrário, a paz do Evangelho é
irmã da simplicidade e dos pardais que Deus alimenta. Ela anda ao lado daqueles
que não precisam de cercas eletrificadas, pois nada têm a perder. Ela pulsa no
coração alegre daqueles que saíram de si em direção ao outro, tecendo com ele
uma teia universal de fraternidade.
Um aspecto quase sempre esquecido
é a imagem do jugo – isto é, da canga – que somos convidados a tomar
sobre nós. Um boi de carro não carrega sozinho o peso de sua canga: ela é
sempre repartida! E o imperativo de Jesus garante que jamais estaremos sozinhos
debaixo deste peso, pois o Senhor estará conosco...
Bem, esta paz pode ter um preço.
Pode custar caro. Pode desaguar na cruz. Mas é a única paz verdadeira. Só ela
permite dizer, ao fim: “Tudo está consumado...” (Jo 19,30)
Orai
sem cessar: “O Senhor abençoará seu
povo com a paz!” (Sl
29,11)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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