O dia do julgamento... (Mt 11,20-24)
A compreensão deste
Evangelho pede auxílio à geografia. Sem panos quentes, Jesus contrasta
duramente três cidades do Povo Escolhido – Corozaim, Betsaida e Cafarnaum – e
três cidades pagãs – Tiro, Sidônia e Sodoma.
As três primeiras
eram conhecidos centros de estudos rabínicos, aqueles “sábios e entendidos” aos
quais o Pai ocultou seus mistérios (vide v. 25). Jesus se lamenta por ter
“desperdiçado” tantos milagres nestes centros de doutores, ao ver que os
“sinais” não os haviam despertado para a conversão.
Situadas no entorno
do Lago de Tiberíades, experimentaram progresso e desenvolvimento econômico
devido às obras romanas na região, no tempo de Jesus.
As três últimas
cidades eram símbolos acabados da “impureza” dos não-povo (os goyim),
detestados por Israel e desprezados como “cães”. Tiro e Sidônia eram cidades da
Fenícia (atual Líbano), dedicadas ao comércio marítimo e exportadoras da
preciosa tintura de púrpura. Este pigmento era produzido a partir de um molusco
abundante na região, o “múrex”, cujas carapaças apodreciam no litoral e
empestavam os ares.
Os fenícios
adoravam um ídolo: a deusa Astarte, filha de
Baal e irmã
de Camos, deusa da lua, da fertilidade, da sexualidade e da
guerra. Para os judeus, uma detestável abominação. Alguns dos cultos fenícios
incluíam vítimas humanas. Por tudo isso, um israelita fiel jamais se
aproximaria desses estrangeiros.
A cidade
de Sodoma, por sua vez, era desde o Gênesis o símbolo máximo de uma sociedade
corrupta e prostituída, da qual Lot teve de fugir com sua família. Juntamente
com Gomorra, acabou destruída por um castigo do céu, ardendo sob uma chuva de
fogo e enxofre (Gn 19).
Em
suma, é fácil adivinhar a reação de ódio dos ouvintes de Jesus diante desta
comparação. Era demais para o orgulho nacional dos judeus! E não foi a única
ocasião em que Jesus elogiou os estrangeiros por suas demonstrações de fé e de
abertura à graça de Deus (cf. Mt 8,10; 15,28; Lc 7,9; 11,31; 17,18-19 etc.), em
contraste com a falta de fé de seus compatriotas.
Deixando a
geografia e a história antiga, voltemos ao presente: de que maneira estou
preparando o dia de meu julgamento? Merecerei o “ai de ti” dirigido às cidades
de Israel? Ou abro meu coração como as cidades pagãs?
Orai sem cessar: “O Senhor é a minha defesa!” (Sl 94,22)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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