Vim separar o homem de seu pai!
(Mt 10,34-11,1)
Seria apenas uma
provocação? Não. Jesus está falando sério. Diante da “espada” de sua Palavra,
isto é, diante das propostas de seu Evangelho, é inevitável que as pessoas
acabem divididas.
Lembram-se de
Francisco de Assis, que se apaixonou pela pobreza e pelo pobre? Seu pai, rico
mercador de tecidos, não entendeu a atitude do filho que distribuía seus bens
aos pobres. Como o pai ameaçasse deserdá-lo, Francisco despe até mesmo a roupa
do corpo e, nu, na presença do bispo, abre mão de sua herança para seguir a
Jesus de modo radical.
Um de meus
professores, Pe. Carlos Morra, pertencia a uma família da antiga nobreza
espanhola. Seu avô e seu pai eram destacados arquitetos. Quando o jovem Carlos
manifestou seu desejo de ser padre, encontrou a recusa de seu pai. “Teu avô era
arquiteto. Eu sou arquiteto. Tu serás arquiteto!”
Obediente, Carlos estudou arquitetura. No
dia da formatura, recebeu o canudo e dirigiu-se ao pai: “Aqui está o seu
diploma. Hoje, às 18 horas, entro para o seminário.” Entre os meus professores,
Pe. Carlos foi um dos mais sábios e mais santos... Entre o desejo humano do pai
e o chamado que Deus lhe fazia, ele teve a coragem de fazer uma dolorida
ruptura e seguir sua vocação.
Neste Evangelho, Jesus contrapõe os verbos
“achar” e “perder”. Hoje, em pleno clima de capitalismo, diríamos “ganhar” e
“perder”. O mundo pagão dedica-se a ganhar, acumular, fazer sucesso. O seguidor
de Jesus aceita perder-se pelo bem do outro, como a mãe que “gasta” a vida
pelos filhos.
Certa vez, fiz uma palestra na Universidade de
Viçosa, MG. Logo na entrada da Universidade, destacam-se quatro grandes
colunas, cada uma delas com um verbo latino: EDISCERE, SCIRE, AGERE, VINCERE. Isto é: aprender, saber,
agir, vencer.
Ao final, manifestei aos ouvintes a minha
intenção de dinamitar a quarta coluna, edificando outra em seu lugar. Trocaria
o verbo “vencer” (típico de uma mentalidade capitalista, utilitarista, quando o
saber é acumulado como uma forma de poder sobre os outros) pelo verbo SERVIR.
Assim, a oportunidade de cursar uma Universidade assumiria objetivos
inteiramente novos... A ciência adquirida reverteria no bem comum, no serviço
ao próximo. Para minha surpresa, o auditório, na maioria universitários,
aplaudiu minha proposta...
E você? Aplaudiria também?
Orai sem cessar: “Senhor,
vós sois a minha parte de herança!” (Sl
16,5)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
Nenhum comentário:
Postar um comentário