E achareis repouso... (Mt 11,28-30)
Esta passagem do
Evangelho, exclusiva de Mateus, chega a ser comovente pela sua candura. Jesus
faz um convite a “todos vós que sofreis, que estais sobrecarregados”, seguido
de uma promessa: “e eu vos descansarei”.
Ora, seria difícil
encontrar alguém que não se enquadrasse como destinatário deste convite, desde
a criança síria vitimada pelo gás Sarin, ao migrante sudanês que atravessa o
Mediterrâneo num bote inflável, até a mãe da menina brasileira atingida pela
bala perdida em plena sala de aula. Todos sofrem, todos estão esmagados pela
vida, todos clamam por descanso e paz.
O teólogo Hans Urs von Balthasar comenta:
“São convidados
todos os aflitos e todos os que estão sob o peso seja lá do que for. É para
estes que o repouso é prometido. (Os outros não precisam disso...) Note-se,
porém, a oposição: aqueles que vêm a Jesus carregam ‘pesados fardos’, mas o
‘jugo’ de Jesus é ‘fácil de carregar’, seu ‘fardo é leve’.
Entretanto, o fardo
dele, a cruz, é o mais pesado que existe. E não podemos dizer que sua cruz só é
pesada para ele, e não para aqueles que a carregam junto com ele. A solução se
encontra na atitude de Jesus, que se designa como “manso e humilde de coração”,
que não geme sob os fardos que lhe são impostos, não se lamenta, não protesta, não
os mede nem os compara às suas próprias forças. ‘Ponham-se em minha escola’, e
em seguida vocês farão a experiência de que o seu pesado fardo é, afinal,
verdadeiramente ‘leve’.
Não é em vão que o
Messias vem, na profecia de Zacarias (9,9-10), montado em um burrinho
completamente humilde. E não é sem razão que Paulo nos recorda termos em nós o
‘Espírito de Deus’ (do Pai) e o ‘Espírito de Cristo’ (do Filho), para nos
deixar determinar por ele. O homem carnal geme debaixo de seu fardo,
entretanto, ‘não somos devedores da carne para vivermos segundo a carne’ (Rm
8,9.11); ao contrário, nós podemos rejubilar-nos segundo Espírito divino que
habita em nós, o Espírito de amor entre o Pai e o Filho, por Jesus nos permitir
carregar com ele um pouco de seu jugo, de sua cruz. Assim é que nos é dado
experimentar, no Espírito, o repouso de Deus.”
Até quando vamos
ignorar este ponto central da Boa Nova? Jesus veio para os fracos, para os
vencidos, para os sem esperança aos olhos do mundo. E sua maneira de vir foi a
Encarnação, quando ele mesmo assume plenamente a nossa condição, sem regalias,
sem honrarias, sem descanso. E, por isso mesmo, ele compreende as nossas
dores...
Orai sem cessar: “Eram as nossas dores que ele carregava...” (Is
52,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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