Ai do
mundo! (Mt 18,1-5.10.12-14)
Esta
passagem do Evangelho tem como eixo nossa relação com os pequeninos. Estes nos
são apresentados por Jesus como modelo de vida: “Se não vos tornardes como
crianças, não entrareis no Reino dos Céus”.
Claro
que Jesus usa a imagem da criança para dizer que somos filhos de Deus, suas
crianças [tékna, no grego, como gosta
de usar o evangelista João]. Assim, Deus é nosso Abbá, o paizinho querido. Quem se relaciona como filho: confiante,
mas obediente, esse entra no Reino.
Mas
a mesma passagem traz uma séria advertência a respeito das ofensas contra os
pequeninos. Jesus emite uma verdadeira cominação: “Ai do mundo por causa dos
escândalos!” Esta palavra [skándalon]
designava uma pedra, de tamanho pequeno, mas suficiente para levar alguém a
tropeçar e cair. Também pode ser traduzida por “cilada” e “obstáculo”.
Nosso
tempo assiste – com a maioria indiferente – a uma série de agressões contra os
pequeninos que Deus ama. A justiça holandesa acaba de considerar
“constitucional” a formação de um partido político pró-pedofilia. Numerosos parlamentos,
em todo o mundo, vão seguidamente legalizando o aborto intencional. Na mesma
linha, autorizam o uso de embriões humanos como cobaias de laboratório. O
último escândalo (por enquanto) consiste na legalização de uniões conjugais
entre pessoas do mesmo sexo, ainda que seja uma opção contrária à natureza da
própria pessoa humana, incluindo o direito de adotarem crianças que,
obviamente, sofrerão os prejuízos psicoafetivos derivados da ausência da mãe ou
do pai.
A
médio prazo – quem viver, verá... –, estas decisões equivocadas, baseadas em
uma mentalidade neopagã, produzirão efeitos destrutivos sobre todo o tecido
social, repetindo a história de antigos grupos sociais cuja decadência é
sobejamente conhecida.
O
que está ao nosso alcance, além da luta política e da conscientização da
sociedade? Temos o dever de investir em nossas crianças, assim como faria o
próprio Senhor se estivesse na Terra. Elas pedem nossa presença, educação de
bons hábitos, formação religiosa e espiritual e, acima de tudo, o exemplo
edificante dos pais e formadores.
Vale lembrar que, no início da
pregação do Evangelho, as crianças não eram valorizadas entre gregos e romanos.
Cabia ao paterfamilias decidir se os
recém-nascidos iriam, ou não, ser mantidos vivos. O aborto era coisa banal.
Crianças deficientes eram sumariamente eliminadas. O hábito de expor (abandonar
ao relento) os recém-nascidos iria perdurar até o Séc. XVIII. A pregação do
Evangelho e a atitude das famílias cristãs começaram a corrigir esse estado de
coisas, lançando as primeiras sementes daquilo que hoje chamamos de “direitos
humanos”.
Proteção ao idoso, escola para
pobres, hospitais para indigentes, fidelidade matrimonial – são “novidades”
trazidas pela evangelização. Sem o Evangelho, voltamos todos às cavernas...
Orai sem cessar: “Defendei antes o fraco e o órfão!” (Sl 82,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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