O
Senhor lhe perdoou a dívida... (Mt 18,21-19,1)
A Boa Nova
anunciada por Jesus à humanidade situa o perdão das ofensas bem no coração de
sua mensagem. De um lado, Deus nos perdoa; do outro, nós perdoamos nosso
próximo. Antoine Bloom, médico, monge e sacerdote ortodoxo, comenta este
Evangelho:
“Assim como
os hebreus foram chamados por Moisés para fugirem do Egito, segui-lo na noite
escura, atravessar o Mar Vermelho, cada um de nós é conduzido ao deserto onde
começa uma nova etapa. Entre o Egito e o deserto, entre a escravidão e a
liberdade, estende-se uma linha de demarcação. É o momento do ato decisivo,
pelo qual nos tornamos homens novos, estabelecidos em uma situação moral
totalmente nova.
Em termos de
geografia, esta linha foi o Mar Vermelho, mas na oração do Senhor, ela é o
“perdoai nossas ofensas como também nós perdoamos”. Este “como nós perdoamos”
representa o exato momento em que tomamos nossa salvação em nossas próprias
mãos, pois tudo o que Deus faz depende daquilo que nós fazemos; e isto é de
extrema importância na vida cotidiana.
Se as
pessoas que saem do Egito levam consigo seus medos, seus ressentimentos, seus
ódios, suas queixas, elas permanecerão escravas na Terra Prometida. Não serão
homens livres, nem mesmo homens em condições de construir sua liberdade. É por
isso que, entre a provação sofrida e a tentação de nossos demônios familiares,
encontra-se esta condição absoluta para a qual Deus jamais aceita algum tipo de
arranjo: não haverá dois pesos, duas medidas; assim como perdoais, assim sereis
perdoados. E o que não perdoais será retido contra vós.
Não é que
Deus não nos queira perdoar, mas se recusamos o perdão, transformamos em fiasco
o mistério do amor, nós o recusamos e já não há lugar no Reino para nós. Já não
podemos ir adiante se não somos perdoados, e não podemos ser perdoados enquanto
não perdoarmos a todos aqueles que nos fizeram mal.
Isto fica
perfeitamente claro, nítido e preciso; e ninguém pode imaginar-se no Reino,
pertence a ele, se permanece em seu coração a recusa de perdoar. Perdoar aos
inimigos é a primeira característica do cristão, a mais elementar. Se nós
falhamos nisto, não somos inteiramente cristãos e ainda erramos no ardente
deserto do Sinai.
A lei do perdão
não é um estreito regato na fronteira entre a escravidão e a liberdade; ela é
larga e profunda, é o Mar Vermelho. Os judeus não a transpuseram por seus
próprios esforços, em barcos feitos pela mão do homem. O Mar Vermelho abriu-se
pelo poder de Deus. Foi preciso que Deus os ajudasse a atravessá-lo. Mas, para
sermos conduzido por Deus, devemos entrar em comunhão com essa qualidade de
Deus, que é a capacidade de perdoar.”
Então,
perdoaremos?
Orai sem cessar: “Por amor a meus irmãos, eu direi: paz para ti!” (Sl 122,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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