O filho do carpinteiro... (Mt 13,54-58)
A
“descoberta” de Jesus Cristo continua sendo um mistério insondável. Ao longo da
história - desde Saulo de Tarso, passando por Agostinho de Hipona e Iñigo de
Loyola, Ratisbonne e Charles de Foucauld -, muitos testemunharam o encontro com
Jesus Cristo, homem e Deus, Filho de Deus, nascido de mulher. E esse encontro
virou de cabeça para baixo a vida de quem o encontrava.
Misteriosamente,
porém, numerosa multidão passou ao lado de Cristo e não o reconheceu. Cegados
por interesses e ideologias, viram em Jesus só um sábio judeu, um agitador
político, o filho do carpinteiro. Esta constatação deve levar-nos à mais
profunda gratidão pelo dom da fé. Afinal de contas, não foi por nossa esperteza
ou pela inteligência superior que a fé brotou em nossos corações: é puro dom.
Pura graça! Sinal do amor de Deus por nós, manifestado através da herança dos
pais, das tradições nacionais, da presença da Igreja. Sem estas oportunidades,
como chegaríamos a crer?
Lembro a
conversa telefônica com um amigo, pai de três ex-alunos meus. Após anos sem contato,
ele dizia: “Eu continuo o mesmo que você conheceu: não creio em nada...”
Naquele momento, cresceu em mim a compreensão do grande presente que recebemos
com o dom da fé! Crer não tem preço...
Os
contemporâneos de Jesus se acotovelavam com o Verbo de Deus encarnado, mas
poucos o identificaram. Raros os que chegaram ao ato de fé. Os vizinhos de
Nazaré se fixaram na imagem do filho de José, o artesão. E não devemos
culpá-los facilmente, pois viram o garoto Jesus buscando água na fonte,
firmando a peça que José serrava, correndo com os moleques da aldeia. Humano
demais... comum demais...
Não sem
motivo, os judeus pediam “sinais”. O Messias esperado devia ser alguém fora do
comum. Acostumados com um passado de grandes milagres – o Mar Vermelho partido
em dois, maná caindo do céu por 40 anos no deserto, as muralhas de Jericó
detonadas a golpes de... trombetas! – o povo de Israel não percebeu Jesus como
o Prometido de Adonai. Por isso não o reconheceram...
Hoje, é
nossa vez. Esta é a oportunidade que temos para identificar Jesus Cristo como o
Filho de Deus que se encarnou e, amorosamente, entregou a vida para nos salvar
da morte eterna. Pilatos chegou perto. Até perguntou: “Então, tu és rei?” (Jo
18,37) Mas cedeu a outros interesses e não acolheu a Verdade. Qual será nossa
escolha?
Orai sem cessar: “Tu és o Cristo, Filho
do Deus vivo!” (Mt
16,16)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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