Herodes queria matar... (Mt 14,1-12)
João, o
Batizador, tornara-se um homem incômodo para o rei. De início, após sair do
deserto, onde convivera com as víboras, as abelhas e os gafanhotos, João
parecia no máximo uma figura folclórica, um arremedo descabelado dos antigos
profetas, vestindo o típico cinturão de couro (cf. 2Rs 1,8).
A coisa começou a mudar quando
multidões se dirigiram ao Jordão, acolhendo, contritas, o convite à conversão
na expectativa do Messias prometido. Herodes Ântipas, tetrarca da Galileia e da
Pereia, teve a curiosidade excitada por aquela insólita figura, mas ao mesmo
tempo pressentia no ar algum tipo de ameaça.
E mudou mais ainda quando explodiu
nas margens do Jordão a denúncia de João Batista recriminando o comportamento
escandaloso de Herodes, que tomara a esposa do próprio meio-irmão Filipe, caído
em desgraça perante Roma. A voz áspera do Batizador ressoava como uma trombeta
nos areais do deserto: “Não te é permitido viver com a mulher do teu irmão!” Os
ouvidos de Herodíades ardiam com os ecos. Seu coração ardia de ódio...
Como se vê, a missão do profeta
inclui o anúncio e a denúncia. Por um lado, João Batista anunciava o Reino de
Deus; por outro lado, denunciava o reino dos homens. Não admira que, na
História da Igreja, esta missão profética tenha sido o motivo de perseguições e
calúnias, repressão e violência. Todo tirano pretende negar à Igreja de Jesus o
direito de anunciar a verdade e reprovar a mentira.
O III Reich logo mostraria o rosto do
anticristo ao perseguir judeus e cristãos, duas comunidades que preferiam ouvir
a Palavra libertadora de Deus antes que os discursos dominadores do Führer. A
maioria das lideranças cristãs repeliu os projetos de Adolf Hitler, o que iria
gerar numerosos mártires da fé, entre os quais o teólogo e pastor luterano
Dietrich Bonhoeffer, cujas cartas da prisão são admirável testemunho de fé
cristã.
O império
soviético, nascido do comunismo ateu, agiria de forma idêntica, encarcerando
bispos, assassinando sacerdotes e proibindo o ensino religioso e demonstrações
públicas da fé. No México dos anos 30, o governo de inspiração maçônica fechou
os templos, perseguiu os padres e cobriu de sangue a terra de Juan Diego, o
amigo de N. Senhora de Guadalupe.
Nestes casos
históricos, uma constante: a reação violenta contra aqueles que denunciam o mal
institucionalizado. No campo oposto, o compromisso cristão com a verdade e a
liberdade, e o testemunho admirável da legião de cristãos que não compactuaram
com a opressão.
Em nosso
tempo, continua acesa a luta pela vida. O complexo de Herodes move a ONU e
muitos governos na direção do aborto legal e da eutanásia, contra a família e o
amor fiel. De que lado ficaremos nós?
Orai sem cessar: “Eu e minha casa serviremos ao Senhor!” (Js
24,15)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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