Quando alguém se torna rico... (Sl
49 [48])
Aqui
e ali, nos salmos, transparece o mal-estar diante do aparente sucesso do homem
injusto, como se não valesse a pena seguir os preceitos do Senhor. Creio que o
fiel deveria se dar por contente com sua experiência de Deus, sem arregalar os
olhos para a fortuna acumulada por outros que parecem lucrar com o mal e a
injustiça.
De
qualquer modo, o salmista nos exorta a não ter medo, isto é, a não nos
inquietarmos com o luxo e a abundância de algum infiel. A aparente felicidade
pode ser enganosa. Nestes tempos de políticos e empresários que enriquecem com
o dinheiro do povo, é bem atual o comentário de Santo Agostinho:
“O
que sucede aos que querem prosperar na terra? Vês um homem malvado progredindo
em tudo, e talvez teus pés vacilem, enquanto dizes a ti mesmo: ‘Ó Deus, conheço
bem as ações deste homem, os crimes que praticou e, no entanto, progride, causa
terror, domina, orgulha-se, não tem dor de cabeça, não sofre perdas em casa; e
terás medo de ter acreditado e provavelmente sugere-te o coração: Ai de mim!
Nada me adianta ter acreditado, pois Deus não cuida das coisas humanas. Deus,
entretanto, nos desperta. Como?”
Agostinho
prossegue: “Por que recear se um homem enriquece? Tinhas medo de ter acreditado
em vão, de perder o trabalho de tua fé e a esperança de tua conversão. [...]
Vês que outro obteve lucro fraudulento, e nada sofreu; e tens medo de ser bom.
‘Não temas’ - diz o Espírito de Deus - ‘quando um homem enriquece.’ Queres ter
olhos só para as coisas presentes? O Ressuscitado prometeu bens futuros; quanto
à paz nesta terra e ao repouso nesta vida, não há promessa. Cada um procura ter
repouso; é boa coisa o que deseja, mas não a procura onde se encontra. Não
existe paz nesta vida. Foi-nos prometido alcançarmos no céu aquilo por que
anelamos na terra. Há promessa de termos no século futuro o que queríamos ter
aqui”.
Pessimista
o pregador? Não. Apenas realista. O coração humano não pode ser preenchido com
moedas de prata nem colares de ouro. Um maço de ações na Bolsa de Valores não
pacifica a alma, cuja sede só o amor de Deus pode saciar. Além disso, ouro,
prata e ações evaporam num átimo. Na semana em que escrevo, um empresário
brasileiro viu cerca de 20 bilhões escorrerem pelo ralo. A traça roeu (Mt
6,19-20).
Agostinho
manda contemplar o ricaço: “Tem aqui muito ouro, muita prata, muitos prédios,
escravos. Morre. Fica tudo isso, e ele não sabe para quem”.
São
estes os bens que procuramos acumular?
Orai sem cessar: “O temor do Senhor será o seu tesouro...” (Is 33,6)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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