Entrai por suas portas!
(Sl 100 [99])
Na
Primeira Aliança, bem antes da revelação plenária, o povo que andava na
escuridão (cf. Is 9,1) esperava igualmente por um desfecho nas sombras, no
Xeol, mansão sombria, onde os mortos não louvam o Senhor (cf. Sl 115,17).
Entretanto, as profecias falavam de uma iluminação por parte de Deus, de modo a
expulsar as trevas do caminho e abrir o acesso ao Senhor.
Mesmo
então, a meio caminho da História da Salvação, Israel é convidado a entrar
pelas portas que Deus prepara ao seu povo. Palavra densa de significado nas
Escrituras, a “porta” representa o “limiar”, a linha divisória a ser transposta
pelo fiel, definindo quem estava “dentro” e quem ficava “fora”, como as virgens
convidadas para o casamento (cf. Mt 25,10-11).
Lembrar,
ainda, que as portas da cidade eram o local onde os litígios eram julgados,
verdade e falsidade eram separadas. No mesmo portal o general vencedor era
aclamado. Passar pelo pórtico do Templo era mergulhar no espaço sagrado do Deus
Três Vezes Santo. Mas foi preciso esperar por Jesus para que a verdadeira porta
estivesse disponível: “Em verdade, em verdade vos digo: eu sou a porta das
ovelhas. Quem entrar por mim será salvo; poderá entrar e sair, e encontrará
pastagem”. (Jo 10,7.9)
Ao
comentar este Salmo, Santo Agostinho faz uma inesperada aplicação do termo
“porta”. Ele diz: “Os pórticos são o começo. Começai pela confissão. Confessai
que não vos fizestes a vós mesmos, louvai vosso Criador. Ele seja teu bem, pois
ao te afastares dele, praticaste o mal que vem de ti. ‘Transponde seus pórticos
com cântico de confissão.’ O rebanho atravesse os pórticos. Não fique fora, em
poder dos lobos. E como há de entrar? ‘Pela confissão.’ A porta, isto é, o
início seja a confissão.”
É
a mesma compreensão de nossa Liturgia, que inclui nos ritos de entrada um Ato
Penitencial, recordando nossa condição de pecadores. Vem de longe a percepção
de que não se pode atravessar de qualquer maneira o limiar do espaço sagrado.
Outro salmo interroga: “Senhor, quem entrará no santuário para te louvar?” (Sl
15)
Em
muitas igrejas, logo no portão de entrada se encontra a pia batismal, lembrando
que o sacramento do Batismo foi o pórtico de entrada para a vida da Graça. Não
seria o caso de encontrar também, nessa mesma linha divisória, o antigo
confessionário que nos permite reentrar na mesma vida?
Orai sem cessar:
“Abri-me as portas da justiça:
entrarei para dar graças ao Senhor!” (Sl 118,19)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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