O Senhor ama seu povo...
(Sl 149)
Qual
é a natureza de nossa relação com Deus? Somos servos de um patrão exigente?
Escravos de potências ameaçadoras? Ou filhos de um Pai amoroso?
Quando
os espanhóis atravessaram o Atlântico e chegaram à América, encontraram as
pirâmides escalonadas do culto ao deus Xipe-Totec, o deus da fertilidade dos
astecas. Os degraus das pirâmides estavam coalhados de crânios de vítimas
jovens, sacrificadas à fúria da divindade sangrenta. Muitas outras sociedades
vivenciaram o mesmo tipo de culto, cujo objetivo era “amansar” deuses temíveis
e neutralizar o mal que poderiam fazer.
Como
pano de fundo, o medo. Ao perceber a própria fragilidade diante das forças da
natureza, o “fiel” devia sacrificar ao espírito das águas, evitando as
inundações, ou ao espírito do fogo, para escapar aos raios do céu. Em um mundo
habitado por potências destruidoras, a religião nasce do medo.
Em
outros cultos, o homem religioso apresenta-se aos deuses (ou aos demônios) com
oferendas e objetos votivos para obter a simpatia dessas potências e alcançar
graças e favores, como a saúde, uma boa colheita, uma prole numerosa ou,
modernamente, passar no vestibular... O fiel é agora um servidor que se dirige
aos deuses como alguém que enfia a moedinha na máquina para conseguir um saquinho
de amendoim. Como pano de fundo, o interesse pessoal.
Já
o Salmo da liturgia de hoje deixa bem claro que estas duas modalidades de
religião são um grande desperdício, pois “o Senhor ama seu povo”. Assim sendo,
Deus é o primeiro interessado em nosso bem-estar, em nossa felicidade, em nossa
salvação. Acima de tudo, a salvação. Não precisamos amansá-lo nem adulá-lo: Ele
nos ama.
Meditando
este Salmo na versão latina da Vulgata [quia
beneplacitum est Domino in populo suo], Santo Agostinho comenta os benefícios
de Deus para nós:
“Que
benefício maior que morrer pelos ímpios? Que benefício tão grande quanto apagar
com o sangue do justo o documento da dívida do pecador? Que benefício tão
grande como declarar: ‘Não me importa o que fostes; sede o que não fostes’? O
Senhor beneficiou seu povo perdoando seus pecados, prometendo a vida eterna. É
um benefício converter o adversário, ajudar o combatente, coroar o vencedor.”
Quando
Deus olha para nós, ele repete a mesma frase que disse sobre Jesus: “Este é meu
filho bem-amado, sobre quem deposito todo o meu agrado, todo o meu bem-querer”.
(Mt 3,17) Assim, nossa religião, em resumo, é deixar-se amar...
Orai sem cessar: “Tu és meu Pai, meu Deus!” (Sl 89,27)
Texto de Antônio Carlos Santini,
da Comunidade Católica Nova Aliança.
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