Despertando do sono... (Mt 1,18-24)
Quando Maria de Nazaré voltou de Ain
Karim, onde assistira a Isabel em uma gravidez de risco, pois a mãe de João
Batista tinha idade avançada, certamente já se percebia que a noiva de José
estava grávida...
Entre os hebreus, o noivado era coisa
séria. Tanto que, se o noivo morria, a noiva passava a se vestir como as demais
viúvas e com elas convivia. Uma noiva adúltera era apedrejada após a denúncia
feita pelo noivo. Não admira que José, o justo, sem poder conciliar a evidência
de gravidez com a íntima certeza de que sua noiva era pura e fiel, pensasse em
se afastar dela, em silêncio (isto é, sem a acusar!), certamente por intuir que
o dedo de Deus estava naquela história...
É quando ocorre a “Anunciação do anjo
a José”. Uma experiência profunda, ligada ao inconsciente (esse sabidinho!...),
tantas vezes usado por Deus para iluminar nosso caminho. E a mensagem do Anjo é
clara: “Não temas! É obra do Espírito de Deus...”
Despertando do sono, José põe em
prática aquilo que “ouvira” com o ouvido do coração e toma por esposa a noiva
grávida de Deus. Pode parecer um detalhe insignificante. Penso que não. Na
prática, não basta ouvir a voz de Deus. É preciso “despertar do sono”. Enquanto
cochilamos, não entramos em ação conforme manda a voz de Deus.
Não é à toa que, em suas cartas, o
apóstolo Paulo tantas vezes insista no mesmo imperativo: “Eis a hora de despertar
do vosso sono: hoje, com efeito, a salvação está mais próxima de nós do que no
momento em que abraçamos a fé. A noite está adiantada, o dia está bem próximo”
(Rm 13,11-12a) “Desperta, tu que dormes, levanta-te dentre os mortos e sobre ti
o Cristo resplandecerá.” (Ef 5,14)
O Advento, todo o tempo, representa
um insistente convite a sair do marasmo, a despertar da sonolência e ficar de
olhos acesos para o Cristo que vem. Rotinas sem alma, anestesias da TV,
relacionamentos mornos – tudo isto é incompatível com a expectativa da iminente
chegada do Senhor. Se o velhinho de vermelho não nos distrair do essencial,
quem sabe estaremos acordados quando o Menino chegar...
Como assegura a Antífona de Laudes,
“o Senhor vai chegar sem demora; trará à luz o oculto nas trevas, vai
revelar-se a todos os povos. Aleluia.”
Orai sem cessar: “Jamais deixarei que meus olhos se fechem!” (Sl
132,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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