Vendo a fé daqueles homens... (Mc 2,1-12)
Cena
bastante incomum. Pouco plausível, creio, para os nossos dias. Mas os
Evangelhos a deixaram registrada para nosso espanto. Cercada a casa pela
numerosa multidão sedenta de ouvir o Mestre, quatro homens não desistem face ao
obstáculo e insistem em levar o amigo paralítico diante dos olhos de Jesus.
As casas
pobres da Palestina, região de clima seco, com chuvas raras, podiam ser
cobertas de ramos de tamareiras e placas de barro. Só o Evangelho de Lucas fala
de telhas (cf. Lc 5,17ss), pois
escrevia para leitores de cultura grega, afeitos a diferentes costumes. Assim
decididos, os quatro amigos resolvem abrir um buraco no telhado (certamente
alguns pedaços de barro seco terão caído sobre o atônito Mestre!) e baixar a
padiola do enfermo no centro da casa.
O paralítico
está imóvel, claro. Talvez nem pisque um olho. Até onde o texto deixa perceber,
ele não tem fé. Já perdeu a esperança. Mas os quatro amigos têm a fé, do
contrário não seriam capazes de um gesto tão impróprio e tão ousado... “Vendo
Jesus a fé daqueles homens – narra São Marcos -, diz ao paralítico: ‘Filho,
perdoados te são os teus pecados.’”
Enquanto os
escribas ali presentes murmuram a respeito da aparente blasfêmia do Rabi, este
decide demonstrar que possui o poder que os homens não têm – o de perdoar
pecados! E devolve prontamente ao enfermo a mobilidade perdida: “Eu te ordeno:
levanta-te, toma tua padiola e vai para tua casa.”
Deixo de
lado a questão material do milagre e da cura impossível. O que me chama a
atenção é que exista uma “fé vicária”. Uma fé substitutiva. Como o infeliz já
perdeu a fé, seus amigos têm a fé por ele. E foi esta fé que moveu Jesus a
curar o paralítico.
No mundo dos
homens, há paralisias dos músculos, dos nervos, do cérebro. Mas existe também
uma paralisia do espírito, quando sequer podemos crer. Entretanto, as mães
amorosas continuam a rezar sem descanso pelo filho que perdeu a fé. A esposa
fiel persevera em sua intercessão pelo marido descrente. E quando Jesus o
percebe, admira-se da “fé amiga” e decide entrar em ação...
Feliz do
paralítico que tem quatro amigos!
Orai sem cessar: “Por amor de meus irmãos e meus amigos,
pedirei
a paz para ti!” (Sl
122,8)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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