Jesus se encheu de compaixão... (Mc 1,40-45)
Virou moda,
em certos meios acadêmicos, reduzir os milagres de Jesus nos Evangelhos a meros
“sinais”. Sem dúvida, são também sinais. Esses milagres que superam os limites
da natureza sinalizam que Jesus é bem mais que um curandeiro, um agitador
político ou um condutor das massas. Acalmar a tempestade, mudar água em vinho,
reanimar Lázaro (morto há quatro dias!) – tudo indica que Jesus é Deus.
Mas a
maioria dos milagres e curas de Jesus aponta em outra direção. Muitas vezes,
antes de agir com poder, ele aparece com as entranhas revolvidas. O verbo grego
do texto original é esplagknísthe
(cf. Lc 7,13), indicando um movimento
visceral, assim como nós falamos de “um frio na barriga” ou “o peito ardendo”.
Jesus se
“comove” com a miséria humana, se compadece de nossas feridas, chega a chorar
(cf. Jo 11,35) ao ver nossas lágrimas. Isto o leva a curar o enfermo, devolver
a vista ao cego, chamar de volta à vida o filho único da viúva chorosa. E é
desta maneira que o Senhor mostra à Igreja o caminho a seguir, como nos vem
recordar o Papa Francisco, citando Santo Tomás de Aquino:
“Aqui o que
conta é, antes de mais nada, ‘a fé que atua pelo amor’ (Gl 5,6). As obras de
amor ao próximo são a manifestação externa mais perfeita da graça interior do
Espírito: ‘O elemento principal da Nova Lei é a graça do Espírito Santo, que se
manifesta através da fé que opera pelo amor’. Por isso afirma que,
relativamente ao agir exterior, a misericórdia é a maior de todas as virtudes:
‘Em si mesma, a misericórdia é a maior das virtudes; na realidade, compete-lhe
debruçar-se sobre os outros e – o que mais conta – remediar as misérias
alheias. Ora, isto é tarefa especialmente de quem é superior; é por isso que se
diz que é próprio de Deus usar de misericórdia e é, sobretudo nisto, que se
manifesta a sua onipotência.’” (EG, 37)
Se nossas
entranhas se moverem, nossos pés também se moverão. Francisco nos mostra o rumo
a seguir: “Se alguma coisa nos deve santamente inquietar e preocupar a nossa
consciência é que haja tantos irmãos nossos que vivem sem a força, a luz e a
consolação da amizade com Jesus Cristo, sem uma comunidade de fé que os acolha,
sem um horizonte de sentido e de vida.” (EG, 49)
Orai sem cessar: “As entranhas me estremecem...” (Ct 5,4)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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