Quem são meus irmãos? (Mc 3,31-35)
Jesus, como
de hábito, está cercado pela multidão impenetrável. Inesperadamente, um grupo
de pessoas de seu clã procura por ele, arrastando consigo a Mãe de Jesus. A
intenção deles é desviá-lo de seu ministério, julgando-o louco (cf. Mc 3,21).
Avisado da
presença deles, Jesus olha para seus ouvintes e pergunta: “Quem são os meus
irmãos?” Em seguida, o Mestre estabelece um contraste entre a família formada
pelos laços de sangue, a família biológica, por um lado, e aquela família que
nasce da acolhida e da obediência à Palavra de Deus.
Não raro, o
fiel se vê diante da exigência de uma definição e, mesmo, de uma ruptura quando
a obediência ao chamado de Deus entre em choque com os laços de sangue. Foi o
caso de Edith Stein – hoje canonizada como Teresa Benedita da Cruz. Nascida em
família judaica, ao ler um livro de Santa Teresa de Ávila, Edith experimentou
uma descoberta de Jesus Cristo que a iniciou em um itinerário de conversão para
o cristianismo. Sua adesão ao Evangelho foi vista pela família como autêntica
traição às raízes judaicas. Apenas uma irmã lhe deu apoio e compreensão.
Ainda hoje,
em países de maioria muçulmana e hindu, é comum que um convertido ao
cristianismo enfrente oposição, perseguições e até a morte. E assim fica
evidente a oposição entre uma pertença familiar ou social e a obediência ao
chamado de Deus, que fala aos corações.
Vivendo em
uma sociedade que retoma progressivamente a visão de mundo do paganismo –
prazer, poder, acumulação, materialismo... -, todos nós somos interpelados a
fazer escolhas. De um lado, os ditames do Evangelho, que convidam à
fraternidade, ao perdão, à vida sóbria, à dependência de Deus; do lado oposto,
os contravalores do mundo: individualismo, vingança, posse, autonomia.
Como
consequência direta de nossas escolhas, nós seremos – ou não – membros da
família de Deus. E Jesus a responder à sua própria pergunta: “Quem faz a
vontade de Deus, esse é meu irmão, minha irmã e minha mãe”...
Na parábola
dos “filhos desiguais” (cf. Mt 21,28ss), Jesus apresenta dois “filhos”
convidados pelo pai ao trabalho na vinha. Um discorda, mas acaba obedecendo; o
outro diz que aceita, mas não vai. É o retrato visível de nossa situação. Se
não obedeço, não sou filho... não sou irmão...
Orai sem cessar: “Eis-me aqui, ó Pai, para fazer a tua vontade!” (Hb 10,9)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova
Aliança.
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