A mim o fizestes... (Mt
25,31-46)
A
grande descoberta de Madre Teresa de Calcutá consistiu em identificar no corpo
do mendigo, do leproso, do miserável, o próprio Corpo de Cristo. Este
“reconhecimento” é exatamente a novidade de nosso Juízo Final.
Poderíamos
falar em uma “teologia do outro”, que oferece um caminho de encarnação pronto a
nos salvar de aéreas religiosidades tão comuns à nossa volta. Quem nos fala do
tema é Lev Gillet (+1980), pregador e exegeta ortodoxo:
“Muitas
vezes, Jesus Ressuscitado se mostra sob o aspecto de um homem desconhecido,
para indicar que, daqui em diante, quando o Cristo histórico subir aos céus,
será sob os traços dos homens por nós encontrados que sua Pessoa assumirá um
semblante terrestre. Bem antes de sua morte, já declara aos discípulos que ele
teve fome e sede, esteve nu e doente, foi estrangeiro e prisioneiro, naqueles
que nós temos alimentado e saciado, temos vestido e cuidado, acolhido e
visitado – e naqueles que tinham estas necessidades, mas para os quais não nos
dirigimos. ‘Tudo o que fizestes a um desses mais pequeninos de meus irmãos, a
mim o fizestes.’
Deus
e suas criaturas jamais serão idênticos. Nós não somos o Cristo por natureza,
mas o somos por participação e por graça. Nós somos seus membros. É sob esta
forma eu Jesus se torna visível e tangível para nós. A esta geração que se proclama
realista e não quer adorar um fantasma, Jesus diz: ‘Vede minhas mãos e meus
pés...” (Lc 24,39.) Hoje, nesta terra, ele não tem outras mãos e outros pés a
não ser os dos homens. Se tu não podes subir diretamente até Jesus pela oração,
sai de tua casa e logo o encontrarás na rua, sob a figura do homem e da mulher
que passam.
É
neles que nos é dada a possibilidade de um encontro incessante com Jesus. Meu
Senhor se manifesta a mim no escritório, na oficina, na loja, no ônibus, nas
filas que esperam de pé. Nós encontramos Cristo em seus templos, mas é ao sair
desses lugares ditos ‘sagrados’ que ele nos convida a começar a procura e a
descoberta de sua pessoa sob os traços de nossos irmãos.
Esta
via de acesso é ao mesmo tempo muito fácil e muito difícil. Fácil, pois Jesus
está ali, em cada um dos que nos cercam. Difícil, pois aquilo que há de mais
comum, mais ordinário, mais cotidiano, exige o mais esforço...
A
cada passo, podemos transfigurar os homens, se resgatamos neles a Sagrada Face
desfigurada. S. João Crisóstomo diz que o altar vivo e humano estendido em cada
rua, em cada esquina, é mais sagrado que o altar de pedra, pois sobre o segundo
o Cristo é oferecido, mas o primeiro é o próprio Cristo.
Orai sem cessar: “Não
te esqueças do pobre!” (Salmo
10,12b)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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