Seja
feita a vossa vontade... (Mt
6,7-15)
Uma
bela aspiração: que se faça a vontade de Deus. Frase tantas vezes repetida em
nossas orações pessoais ou comunitárias! Pena que nem sempre corresponda a um
autêntico anseio de nosso coração...
Por
exemplo: no brasão de armas da casa real da Inglaterra, pode-se ler o lema: “Fiat
voluntas mea” [Faça-se a MINHA vontade]. A vontade do rei, não a vontade de
Deus. Algo semelhante ao que narrava um missionário italiano no Japão. Ao
ensinar o Pai-Nosso às crianças, e chegando a esta petição, os pequenos
japoneses protestaram: - “Não! Ele é quem deve fazer a nossa vontade!” Os
minicatecúmenos queriam um Deus semelhante ao gênio da lâmpada: bastava
esfregar e o djim comparecia para atender às veleidades do patrão...
Na
Suma Teológica, Santo Tomás nos fala dos cinco sinais que podem
manifestar a vontade divina para nós: a proibição, o preceito, o conselho, a
operação e a permissão. E logo vem à nossa mente que o Criador estabelecera uma
única proibição (cf. Gn 2,17), e foi justamente na árvore interdita que o
primeiro casal foi procurar alimento. Isto é, minha vontade pessoal se sobrepõe
à vontade divina expressa na proibição.
E
aqueles fiéis que se insurgem abertamente contra os preceitos de Deus, gravados
na Escritura Sagrada ou canalizados através da Igreja? A vontade de Deus fica
soterrada por uma visão de mundo personalizada, por preferências e facilidades,
por ideologias ou compromissos humanos. Por exemplo, no caso dos abortistas,
que ignoram radicalmente o “Não matarás” impresso a fogo na rocha do Sinai.
Pedimos
que se faça a vontade de Deus, mas discutimos longamente o estranho conselho
que manda “amar os inimigos” (Mt 5,44), pois nos arrogamos o direito à vingança
e invocamos o direito arcaico do “olho por olho”. Cravado no madeiro, Jesus
perdoa seus algozes e nós... clamamos pela pena de morte...
Precisa
mais? Não está claro que perdemos o direito de rezar o Pai-Nosso? Dirigir-nos a
um Pai, que é Pai meu e dos outros, inclusive daqueles que eu odeio e dos quais
pretendo vingar-me? No fundo, o Pai-Nosso me compromete com uma Vontade que não
é a minha!
Creio
dispensável uma referência ao quarto e ao quinto sinal, pois as realidades que
Deus tem “permitido” em nossa vida são exatamente aquelas que classificamos
como desgraças, desastres e fatalidades inaceitáveis. Penso, por exemplo, na
revolta de casais que não conseguem engravidar, ou no desespero daqueles que
perderam um filho. Como é difícil aceitar – aqui no aquém-túmulo - que Deus
possa ter um desígnio mais alto para mim, mesmo que incompreensível no momento!
Um
dia, talvez, o Pai-Nosso venha a ser verdadeiro para nós...
Orai sem cessar: “Dirige-me na senda dos teus
mandamentos!”
(Sl 119,35)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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