O
sinal de Jonas...
(Lc 11,29-32)
Deus fala. Diferentes dos ídolos
mudos, Deus insiste em comunicar-se com o homem. O primeiro grande “sinal” de
sua presença foi a própria Criação: a contemplação do Cosmo, do microscópico ao
macroscópioco, deveria bastar à criatura para dobrar os joelhos em adoração,
saltando da obra ao Operário, dos vasos ao Oleiro, da argila ao Sopro...
Mas Deus vem falando
incansavelmente, ao longo dos séculos, também por meio de seus profetas
(Isaías, Gandhi, Luther King...), por meio de sonhos (Abimelec [Gn 20,2ss],
José de Nazaré [Mt 1,20ss], Paulo [At 16,9]), por meio dos acontecimentos (o
êxodo, o cativeiro de Babilônia, a destruição do Templo, a Shoá, a Segunda Guerra mundial...). Telespectadores atentos hão de
ouvi-lo no fundo dos noticiários da TV.
Apesar de toda esta divina
comunicação, os racionalistas de cada geração ainda pedem por “sinais”: algo de
esmagadora potência que os convencesse sem a necessidade do humilde ato de fé.
Foi assim também no tempo de Jesus: como se não bastassem os cegos que viam, os
surdos que ouviam, os leprosos purificados, os paralíticos mobilizados,
escribas e fariseus exigem de Jesus um sinal definitivo.
Ora, “doutores da lei” que eram,
eles deveriam “ler” com olhos de fé a Escritura que ciosamente conservavam.
Nela, entre outros sinais, saltava aos olhos a narrativa de um tal Jonas,
convocado por Deus a despertar os ninivitas para uma oportunidade de salvação.
Em lugar de Nínive (1200 km a Nordeste), Jonas foge para Társis, a Espanha
(5500 km a Oeste). Na rota de fuga, acaba lançado ao mar e deglutido por um
grande peixe.
No coração (kardia) do mar, na barriga (koilia)
do peixe, duplamente sepultado, Jonas reza belíssimo salmo: “O abismo me
circunda / algas se agarram à minha cabeça / mas tiraste da fossa a minha
vida!” (Jn 2,6-7). Deus ouve e responde, devolvendo à superfície o profeta
fujão vomitado pelo peixe.
Eis o sinal: após três dias no
ventre da morte (Jn 2,3), voltar ao mundo dos vivos e anunciar a salvação. A
figura de Jonas era o tipo do Messias – também ele mergulhado nas trevas de
nosso pecado! – que, após ser envolvido pelos vagalhões da morte, ressurge à
luz de nossa História para anunciar a Notícia salvadora. Hoje, como naquele
tempo, não nos será dado outro “sinal”.
No comentário de Santo Efrém de
Nisíbia [306-373 d.C.], “se os ninivitas tivessem desprezado Jonas, teriam
descido em vida à mansão dos mortos, como Jonas no ventre do peixe. Como,
porém, fizeram penitência, foram resgatados da morte, como Jonas. Assim é em
relação a Nosso Senhor: ou bem os homens vivem por sua morte, ou bem morrem por
ela”.
Ainda querem um sinal?
Orai sem cessar: “O Senhor reergue os abatidos...” (Sl 145,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.
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