Se
queres, podes limpar-me...
(Mc 1,40-45)
Querer é poder? Não para nós. Só
para Deus. O que está ao nosso alcance é a atitude do leproso deste Evangelho,
que faz uma aposta no querer de Deus e se abandona plenamente ao toque de suas
mãos.
É fácil? Não. É difícil? Também não.
É uma questão de fé, não de humano esforço. E existem vários níveis de fé. Se
entro em um ônibus, faço um ato de fé no motorista. Se sofro uma cirurgia, faço
um ato de fé no anestesista e no cirurgião. Trata-se de uma atitude de abandono
que realizamos como algo inevitável.
É diferente a fé do leproso. No caso
dele, a única inevitável era a certeza de seu mal, a realidade de sua exclusão
social, a fatalidade de seu destino. No entanto, pulsa em seu íntimo uma força
que supera toda limitação da natureza humana. Quando Jesus se referiu a esta
força, afirmou que ela poderia transportar montanhas (cf. Mt 17,20).
No mínimo, este Evangelho poderia
ensinar-nos o segredo da oração cristã. Levando em conta não as nossas forças,
mas o poder e a bondade daquele a quem nos dirigimos, nossa oração se torna
onipotente.
Eis a reflexão de Pascásio Radbert
[785-860 d.C.]:
“Este leproso nos dá excelente
conselho sobre a maneira de rezar. Ele não põe em dúvida a vontade de Senhor,
como se recusasse crer em sua bondade, mas, consciente da gravidade de suas
faltas, não quer presumir essa vontade. Quando diz que o Senhor, se o quiser,
pode purificá-lo, ele faz bem em afirmar desse modo o poder que pertence ao
Senhor, bem como sua fé inquebrantável. É que, para obter uma graça, requer-se
a fé pura e verdadeira, tanto quanto a atuação do poder e da bondade do
Criador.
A fé pura, vivida no amor, mantida
pela esperança, paciente na espera, humilde em sua afirmação, firme na
confiança, cheia de respeito em sua oração e de sabedoria naquilo que pede,
está certa de ouvir, em toda circunstância, esta palavra do Senhor: ‘Eu o
quero!’
Tendo presente ao espírito esta
resposta admirável, nós devemos reagrupar as palavras segundo o seu sentido.
Assim, o leproso disse para começar: ‘Senhor, se queres...’, e o Senhor: ‘Eu o
quero’. Tendo o leproso acrescentado: ‘Tu podes limpar-me’, o Senhor ordenou
com o poder de sua palavra: ‘Sê limpo!’ Verdadeiramente, tudo que o pecador
proclamou em uma autêntica confissão de fé, a bondade e o poder divinos logo o
realizaram por graça.”
Pausa para reconhecer: não é verdade
que rezamos pouco? Não é verdade que não esperamos muito de Deus? Não é verdade
que a certeza de nossa falta de méritos trava nossa oração, como se Deus fosse
médico só para os sadios?
Bendito leproso, que acredita mais
no Médico que em sua própria lepra!
Orai sem cessar: “Lava-me, Senhor, de toda a minha
culpa!” (Sl 51,4)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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