Por
que esta geração pede um sinal? (Mc
8,11-13)
Nesta passagem do Evangelho, Jesus
se mostra algo irritado com a permanente pressão dos fariseus que, tentando
pô-lo à prova, chegavam a cobrar dele um sinal do céu que avalizasse a sua
autoridade. São João da Cruz afirma claramente que essa mania de pedir “sinais”
a Deus e essa sede de visões e revelações são incompatíveis com os tempos da
Nova Aliança em Jesus Cristo.
O santo do Carmelo diz que o hábito
de fazer perguntas a Deus, como no tempo dos antigos profetas, se explica
porque “ainda não estavam bem assentados os fundamentos da fé, nem estabelecida
a Lei evangélica”. Agora, porém, “já estabelecida a fé em Cristo, e a Lei
evangélica promulgada na era da graça, não há mais razão para perguntar daquele
modo, nem aguardar as respostas e os oráculos de Deus, como antigamente.
Porque, ao dar-nos, como nos deu, o seu Filho, que é a sua Palavra única (e
outra não há), tudo nos falou de uma vez nessa Palavra, e nada mais tem para
falar”.
Quando se multiplicam as notícias de
aparições, de fenômenos solares, ao lado de profecias de noites de trevas,
manifesta-se claramente o estágio primitivo de uma fé que não chegou a
amadurecer. O mesmo Doutor ensina: “Se atualmente, portanto, alguém quisesse
interrogar a Deus, pedindo-lhe alguma visão ou revelação, não só cairia em uma
insensatez, mas agravaria muito a Deus em não pôr os olhos totalmente em Cristo
sem querer outra coisa ou novidade alguma. Deus poderia responder-lhe deste
modo, dizendo: ‘Se eu te falei já todas as coisas em minha Palavra, que é meu
Filho, e não tenho outra palavra a revelar ou responder que seja mais do que
ele, põe os olhos só nele; porque nele eu disse e revelei tudo, e nele acharás
ainda mais do que pedes e desejas”.
Antes da revelação plena na pessoa
de Jesus Cristo, os antigos valiam-se de variados meios para discernir a
vontade de Deus. Isto incluía o exame de vísceras de animais, o estudo dos
astros e até mesmo uma espécie de jogo de azar com pequenas pedras ou ossos de
animais, que a Bíblia chama de “urim” e “tumim”. Um caso clássico na Bíblia foi
a experiência de Gedeão (cf. Jz 6,36ss), quando ele estendeu no terreno uma
pele de carneiro, pedindo ao Senhor que o orvalho noturno caísse apenas sobre o
velo, mas a terra em torno continuasse seca, como sinal certo de que Israel
seria salvo por suas mãos.
“Mas interrogar-me agora e querer
receber minhas respostas como no Antigo Testamento – conclui São João da Cruz –
seria de algum modo pedir novamente Cristo e mais fé; tal pedido mostraria,
portanto, a falta desta mesma fé já dada em Cristo.” Certos grupos que se dizem
cristãos, mas permanecem aferrados ao Velho Testamento, incorrem com frequência
neste despropósito.
Orai sem cessar: “Quem
confia no Senhor, esse é feliz!”
(Pr 16,20)
Texto
de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.
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