O fogo inextinguível... (Mc 9,41-50)
Não está na moda
falar no inferno. A onda racionalista nega a existência do demônio e, depois de
duas guerras mundiais, duas bombas atômicas e a ameaça de uma conflagração
planetária, chega a dizer que “o inferno é aqui mesmo”.
Mas não foi isso
que Jesus ensinou. Em várias passagens do Evangelho, Jesus fala da
possibilidade (terrível!) de se viver uma eternidade afastado de Deus.
Imediatamente após a morte, passamos por um julgamento ou juízo particular (cf.
Hb 9,27), onde se define irrevogavelmente o nosso destino. Jesus usou de muitas
imagens para transmitir a visão desta realidade espiritual, entre elas a
separação entre cordeiros e cabritos, ao final do dia, como os pastores
costumavam fazer na Palestina. (Cf. Mt 25,31ss.)
No Evangelho de
hoje, Jesus recorreu à imagem da Geena com seu fogo inextinguível. A Bíblia de
Navarra comenta em nota: “Geena ou Ge-hinnom era um pequeno vale ao sul
de Jerusalém, fora das muralhas e mais baixo do que a cidade. Durante séculos
esse lugar foi utilizado para depositar o lixo da povoação. Habitualmente esse
lixo era queimado para evitar o foco de infecção que constituía e a acumulação
do mesmo. Era proverbial como lugar imundo e doentio. Nosso Senhor serve-se
desse fato conhecido para explicar, de modo gráfico, o fogo inextinguível do
inferno”.
O mesmo vale,
segundo estudiosos, tinha sido local de cultos idólatras, acentuando-se o seu
aspecto de lugar maldito. Além disso, era comum que o lixo acumulado, em clima
quente e seco, entrasse em combustão espontânea. Alguns entendem que devia
haver algum fogo permanente em sua vegetação semelhante à turfa. Imagens,
apenas, mas que podem falar aos nossos sentidos sobre uma realidade que ninguém
pode imaginar com realismo.
Claro que o
inferno não pode ser um “lugar”, em seu sentido meramente material. O “Catecismo”
apresenta o inferno como um “estado”. Vejamos: “Não podemos estar unidos a Deus
se não fizermos livremente a opção de amá-lo. Mas não podemos amar a Deus se
pecamos gravemente contra Ele, contra nosso próximo ou contra nós mesmos. [...]
Morrer em pecado mortal sem ter-se arrependido dele e sem acolher o amor
misericordioso de Deus significa estar separado do Todo-Poderoso para sempre,
por nossa própria opção livre. E é este estado de auto-exclusão definitiva da
comunhão com Deus e com os bem-aventurados que se designa com a palavra
‘inferno’”. (Nº 1033)
Um inferno sem
fogueiras, sem tridentes. Mas, acima de tudo, um inferno sem amor...
Orai sem cessar: “Amo-te com amor eterno.” (Jr
31,3)
Texto de Antônio Carlos Santini, da
Comunidade Católica Nova Aliança.
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