quarta-feira, 20 de junho de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Quando deres esmola... (Mt 6,1-6.16-18)
Resultado de imagem para (Mt 6,1-6.16-18)       A esmola está em baixa. Há quem diga que a esmola estimula a preguiça dos vagabundos. Outros afirmam que ela humilha o beneficiado. Naturalmente, é preciso ouvir a opinião dos que passam fome, eles podem discordar...

            Curiosamente, os “Manuscritos” de Santa Teresinha de Lisieux registram experiências de esmola em sua infância. Aliás, quando saíam a passear pelas ruas, Mr. Martin, seu pai, dava-lhe previamente moedinhas para distribuir aos mendigos. “Um dia, vimos um que se arrastava penosamente sobre muletas. Aproximei-me e lhe dei um centavo (un sou); mas não se achando bastante pobre para receber a esmola, olhou-me sorrindo tristemente e recusou-se a tomar o que eu lhe oferecia. Não posso dizer o que se passou em meu coração. [...] Embora tivesse apenas seis anos, disse para mim mesma: ‘Rezarei pelo meu pobre no dia da minha primeira comunhão’.” (Man. A, 52)
            O fato de que a Pequena Teresa cumpriria sua promessa, seis anos depois, nos leva a aproximar a esmola da oração. Nosso compromisso com o próximo inclui as necessidades materiais e as espirituais. As comunidades monásticas, que vivem na clausura, são um admirável exemplo dessa caridade invisível.
            Outra “esmola” mais aceitável em clima de Séc. XXI é o trabalho solidário realizado através das ONGs, de entidades de serviço como os “Médicos sem Fronteiras”, a Cruz Vermelha, missionários cristãos, pastoral carcerária e grupos semelhantes. De fato, dedicar ao próximo o próprio tempo, o próprio trabalho, incluindo riscos para a saúde e para a vida, é uma esmola que não merece críticas.
            Vale lembrar que a palavra esmola vem do latim [eleemosyna], a partir de raízes gregas, onde o substantivo “elaion” [azeite] e o verbo “eleeô” [despertar compaixão por meio de palavras] estão situados no campo semântico de piedade, misericórdia. No ato penitencial, na missa em latim, a súplica “Kyrie, eleison” repete o gesto do mendigo que estende a mão vazia e espera por uma resposta de compaixão.
            Em suma: diante de Deus, nós somos mendigos à espera de seu perdão e de sua cura. Iniciamos nossas celebrações recordando nossa miséria, nossa extrema indigência, esperando que ela toque o coração de Deus, remexa com suas entranhas. De fato, nos Evangelhos, quando Jesus se compadece, logo antes de fazer uma cura ou reanimar um morto, o verbo grego é “esplagnysthe”. Da mesma raiz - splen - em português formou-se o adjetivo esplênico, relativo ao “baço”, indicando o realismo visceral das emoções de Jesus.
            Digamos, então, que a esmola é inseparável da capacidade de comover-se com a dor alheia, sentir um frio na barriga e... abrir as mãos...
Orai sem cessar: “Este pobre pediu socorro e o Senhor o ouviu...” (Sl 34,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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