O carrasco cortou-lhe a
cabeça... (Mc 6,17-29)
É natural que o leitor se escandalize com a morte
violenta de João Batista... Como Deus permite assim o mal e a injustiça? O
capricho de um governante bêbado, o ódio recalcado de uma adúltera, a
indiferença de uma plateia de aduladores... E o Precursor do Messias é friamente
degolado...
E não será um caso isolado. Ao longo da História, há de
seguir-se uma incontável legião de cristãos assassinados pelo ódio a Cristo, a
multidão daqueles “que lavaram e branquearam suas vestes no sangue do
Cordeiro”. (Ap 7,14)
Estamos diante do mistério dos mártires. Se aceitamos que
o Filho de Deus dê seu sangue por nossa salvação, devemos aceitar que nosso
sangue venha a unir-se ao dele.
Em seu livro “Pourquoi,
Seigneur?”, Carlo Carreto reflete sobre este mistério cristão: “Pela
revelação de Jesus crucificado, a Igreja se forma para reunir aqueles que
crerão nele e que, regenerados por seu Espírito, tornam-se capazes de realizar
o plano de Deus, que consiste em vencer o mal por meio do bem. É assim que
nasce o mártir com sua indiscutida primazia”.
“Desde então – prossegue Carreto – o que conta para
estender o Reino não é o poder, mas o serviço; não é a vingança, mas o perdão;
não é o orgulho, mas a humildade; não é a instrução, mas o sacrifício. A
primazia do martírio passa a ser um valor absoluto, não somente para Jesus, mas
para cada um de nós.”
O escândalo diante da execução de João Batista nasce de
nosso engano em considerar a vida humana mais importante que o testemunho de
Jesus Cristo. O próprio Mestre havia ensinado: “Quem quiser salvar sua vida,
vai perdê-la; quem perder sua vida por causa de mim, vai encontrá-la”. (Mt
16,25)
Corre a areia da ampulheta, passam os séculos, e os
mártires continuam avaliando que perder a vida por Cristo é lucro. Paulo o
confirma: “Por causa dele, perdi tudo e considero tudo como lixo, a fim de
ganhar Cristo e ser encontrado unido a ele.” (Fl 3,8b-9a)
Carlo Carreto conclui: “Será preciso completar em nós,
como diz Paulo (cf. Cl 1,24), aquilo que falta à paixão de Cristo. O amor, que
tem suas exigências, nos interpelará até o fundo do coração, nos perturbará,
nos fará tristes... mas acabará por fazer-nos encontrar a luz”.
Orai sem cessar: “Seu sangue será precioso
aos olhos do Senhor!” (Sl 72,14)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade
Católica Nova Aliança.

Nenhum comentário:
Postar um comentário