Como simples homem do povo –
carpinteiro de profissão –, Jesus é um estranho Rabi. Ele não usa a linguagem
dos sábios teólogos, com suas parusias e perícopes, escatologias e
hermenêuticas. Ao contrário, o Galileu nos vem falar de aves do céu e de flores
do campo, de joio e de trigo, de mosquitos e de camelos.
Neste Evangelho, Jesus aparece no
trabalho de arrancar as máscaras dos fariseus de seu tempo: “hipócritas”
é uma expressão ligada ao teatro grego, que os artistas levavam ali pertinho,
em Cesareia, falando por trás da máscara cômica e da máscara trágica. Choravam
sem sentir tristeza e riam sem experimentar alegria. Pura exterioridade!
A lição de Jesus é que a verdadeira
religião não depende de práticas externas (como pagar minuciosos dízimos sobre
a hortelã e o cominho – autênticas quinquilharias rituais!), mas de um coração
amoroso inteiramente orientado para o Pai. Os doutores da lei, naquele tempo,
oneravam o povo humilde com o pesado fardo de numerosas normas acrescentadas
aos Dez Mandamentos (613 preceitos já foram contabilizados!).
Em sua linguagem clara e forte,
Jesus mostra que os pretensos líderes da espiritualidade – escribas e fariseus
- estão filtrando as moscas (presos a detalhes ínfimos da religião), mas
engolem camelos (deixam de lado os aspectos fundamentais da religião, como a
justiça social, o amor ao próximo, a misericórdia e a fidelidade a Deus).
Que diria Jesus Cristo de nossa atual
sociedade brasileira? Como ele veria a mulher pobre condenada e presa por
roubar um simples xampu, enquanto os senadores e deputados enriquecem com as
verbas desviadas e os projetos superfaturados? Como veria as passeatas que
protestam contra a morte de uma criança, enquanto milhões de fetos são
abortados pelos próprios pais, sem dó nem piedade? Como veria os pastores que
utilizam o Evangelho para arrancar o dízimo dos pobres e com ele construir
verdadeiros impérios econômicos?
O alerta de Jesus deve tocar também
nossa vida pessoal. Será que também nós estamos filtrando os mosquitos, ao
mesmo tempo que engolimos os camelos de nossa impiedade?
Orai sem
cessar: “O Senhor
ama os atos de justiça!” (Sl 11,7)
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