terça-feira, 28 de agosto de 2018

PALAVRA DE VIDA


 Filtrais o mosquito... (Mt 23,23-26)
Imagem relacionada           Como simples homem do povo – carpinteiro de profissão –, Jesus é um estranho Rabi. Ele não usa a linguagem dos sábios teólogos, com suas parusias e perícopes, escatologias e hermenêuticas. Ao contrário, o Galileu nos vem falar de aves do céu e de flores do campo, de joio e de trigo, de mosquitos e de camelos.

            Neste Evangelho, Jesus aparece no trabalho de arrancar as máscaras dos fariseus de seu tempo: “hipócritas” é uma expressão ligada ao teatro grego, que os artistas levavam ali pertinho, em Cesareia, falando por trás da máscara cômica e da máscara trágica. Choravam sem sentir tristeza e riam sem experimentar alegria. Pura exterioridade!
            A lição de Jesus é que a verdadeira religião não depende de práticas externas (como pagar minuciosos dízimos sobre a hortelã e o cominho – autênticas quinquilharias rituais!), mas de um coração amoroso inteiramente orientado para o Pai. Os doutores da lei, naquele tempo, oneravam o povo humilde com o pesado fardo de numerosas normas acrescentadas aos Dez Mandamentos (613 preceitos já foram contabilizados!).
            Em sua linguagem clara e forte, Jesus mostra que os pretensos líderes da espiritualidade – escribas e fariseus - estão filtrando as moscas (presos a detalhes ínfimos da religião), mas engolem camelos (deixam de lado os aspectos fundamentais da religião, como a justiça social, o amor ao próximo, a misericórdia e a fidelidade a Deus).
            Que diria Jesus Cristo de nossa atual sociedade brasileira? Como ele veria a mulher pobre condenada e presa por roubar um simples xampu, enquanto os senadores e deputados enriquecem com as verbas desviadas e os projetos superfaturados? Como veria as passeatas que protestam contra a morte de uma criança, enquanto milhões de fetos são abortados pelos próprios pais, sem dó nem piedade? Como veria os pastores que utilizam o Evangelho para arrancar o dízimo dos pobres e com ele construir verdadeiros impérios econômicos?
            O alerta de Jesus deve tocar também nossa vida pessoal. Será que também nós estamos filtrando os mosquitos, ao mesmo tempo que engolimos os camelos de nossa impiedade?

Orai sem cessar: “O Senhor ama os atos de justiça!” (Sl 11,7)
Texto de Antônio Carlos Santini, da Comunidade Católica Nova Aliança.

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